segunda-feira, 31 de maio de 2010

A MULHER E A MODA

A moda destrói a beleza e destrói o espírito. Um cai­xeiro desenha a lápis, em Paris, um certo chapéu um certo corpete, umas certas mangas — e todas, magras e gordas, as louras e as triguei­ras, as altas e as pequeninas, se introduzem, se alojam, se enfiam naquele molde, sem se preocuparem se o seu corpo, a sua cor, o seu per­fil, a sua altura, o seu peito, condizem, harmoniza, vão bem com o molde decretado e chegado pelo correio. Abandonando-se servilmente ao figurino, abdicam a sua ori­ginalidade, o seu gosto. Acei­tam uma banalidade em seda — e um lugar comum com folhos. Uma senhora que não inventa e não cria os seus vestidos — é como um escri­tor que não acha e não in­venta as suas ideias. Ter a toilette do figurino é fazer como os merceeiros que têm a opinião da sua gazeta. Desabitua o espírito da inven­ção, da espontaneidade, da liberdade. É uma confissão tácita de que não tem espírito, nem fantasia. Seguir um figurino é aprender a ele­gância de cor, para ir recitar na rua; é o ter o gosto que se recebeu de encomenda; é alugar o chic ao mês; é mandar vir as ideias pelo correio; é o bom-tom por as­sinatura.
Que falta de espírito! e os maridos pagam-no.

Eça de Queiroz

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