A moda destrói a beleza e destrói o espírito. Um caixeiro desenha a lápis, em Paris, um certo chapéu um certo corpete, umas certas mangas — e todas, magras e gordas, as louras e as trigueiras, as altas e as pequeninas, se introduzem, se alojam, se enfiam naquele molde, sem se preocuparem se o seu corpo, a sua cor, o seu perfil, a sua altura, o seu peito, condizem, harmoniza, vão bem com o molde decretado e chegado pelo correio. Abandonando-se servilmente ao figurino, abdicam a sua originalidade, o seu gosto. Aceitam uma banalidade em seda — e um lugar comum com folhos. Uma senhora que não inventa e não cria os seus vestidos — é como um escritor que não acha e não inventa as suas ideias. Ter a toilette do figurino é fazer como os merceeiros que têm a opinião da sua gazeta. Desabitua o espírito da invenção, da espontaneidade, da liberdade. É uma confissão tácita de que não tem espírito, nem fantasia. Seguir um figurino é aprender a elegância de cor, para ir recitar na rua; é o ter o gosto que se recebeu de encomenda; é alugar o chic ao mês; é mandar vir as ideias pelo correio; é o bom-tom por assinatura.
Que falta de espírito! e os maridos pagam-no.
Eça de Queiroz
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário