quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ALMANAQUES

Um almanaque ou Almanach (do árabe al-manākh, segundo Antenor Nascentes) é uma publicação, quase sempre anual, que reúne calendário com datas das principais efemérides astronómicas como os solstícios e fases lunares. Actualmente os almanaques englobam outras informações com actualizações periódicas específicas a vários campos do conhecimento.

Segundo Correia e Guerreiro, o primeiro almanaque editado em Portugal foi impresso em Leiria em 1496: o “Almanach Perpetuum” de Abraão Zacuto. Fornecia tábuas logarítmicas e outras indicações com respeito ao curso do sol para cada dia do ano.
Em 1518 e 1585 é editado o “Reportório dos Tempos” por Valentim Fernandes e André de Avelar, respectivamente.
Em 1603 Manuel de Figueiredo publica em Lisboa a sua “Cronografia Reportório dos Tempos”.
Em 1644, com apenas oito folhas, editam-se os “Prognósticos e Lunários”. São compostos por licenciados como Galhanos Lourosa, Paes Ferraz, Francisco Espinosa, Gonçalves da Costa, e são impressos nas oficinas de António Alvarez, António Graesbeck ou J. Galrão. Estes Prognósticos virão a transformar-se mais tarde no tão popular Borda-d’água.

A segunda metade do século XIX testemunha a proliferação deste tipo de publicações de incontestável importância, se bem que cada vez mais distanciados do avanço científico e técnico que então se conhece.
De acordo com os seus públicos, podem ser um pequeno folheto, dirigido à população rural e dos arredores das cidades ou, então, aumentar o número de páginas, tornando-se num instrumento de divulgação de conhecimentos quer para um público geral, mais burguês e citadino, quer junto de algumas camadas sociais diferenciadas por ideários políticos, religiosos ou por outros interesses muito específicos.
Existem Almanaques cujo objectivo é ainda próximo do primitivo: “Almanaque Agrícola”, “Almanaque do Agricultor, Veterinário e Medicina Doméstica”, “Almanaque de Bento Serrano”. Outros porém com uma visão mais moderna: “Almanaque de Grande Armazém de Roupas Brancas de José Marão”, “Almanaque Ilustrado do Jornal O Século”. Também os há dirigidos a determinadas actividades profissionais: “Almanaque do Jardineiro”, “Almanaque do Belo Sexo”, “Almanaque do Bombeiro Português” – ou de feição explicitamente recreativa – “Almanaque Can-Can”, “Almanaque das Travessuras de Cupido”, “Almanaque das Ratices da Tia Genoveva”, “Almanaque das Trapalhadas”, “Almanaque de Gargalhadas”, “Almanaque para Chorar... de Riso” ou o curiosíssimo “Almanaque Cabrion”. Alguns outros ostentam a colaboração de escritores: “Almanaque de Reporters”, “Almanaque do Burro do Senhor Alcaide” (com base na opereta de D. João da Câmara e Gervásio Lobato), “Almanaque do Fim do Século”, “Almanaque do Gato Preto”, “Almanaque do António Maria” (escrito por J. César Machado), etc. A feição religiosa também se faz anunciar nos próprios títulos: “Almanaque de Santo António”, “Almanaque de S. João”, “Almanaque de Seráfico e Milagroso S. Francisco”. As ciências ocultas também são contempladas: “Almanaque do Feiticeiro” ou “Almanaque dos Sonhos e Visões Nocturnas”. Não podiam faltar nesta lista os utilitários “Almanaque dos bons Fadinhos” ou “Almanaque dos Bons Pitéus”.

No século XIX algumas destas publicações mereceram a colaboração de intelectuais portugueses:
“Almanaque das Lembranças” (1851-1932)
“Almanaque Democrático” (1852-1855)
“Almanaque do Cultivador” em que colaboram António F. de Castilho e Dias Pegado
Em 1896 publica-se o primeiro “Almanach Encyclopedico” editado pela Livraria de António Maria Pereira com um extenso prefácio de Eça de Queiroz que define assim um “Almanach” :

«…é o livro disciplinar que coloca os marcos, traça as linhas dentro das quais circula, com precisão, toda a nossa vida social».

Três anos depois, em 1899, sai do prelo o “Almanach Bertrand”, que se tornaria muito popular, não só em terras lusas, como também no Brasil, sendo publicado até 1969 e que durante muitos anos contou com a colaboração de personalidades eminentes da cultura nacional.
Durante a primeira parte do século XX, os almanaques continuaram a merecer grande aceitação em Portugal principalmente os de pequena dimensão, os mais práticos, entre os quais temos de distinguir “O Velho Borda d’Água”, edição da Livraria Barateira, “O Verdadeiro Almanaque Borda d’Água”, edição da Editorial Minerva e “O Seringador”, hoje editado por Lello & Irmão, do Porto.
No arquipélago publica-se a “Folhinha da Terceira” entre 1830 e 1832. Em 1904 o “Almanaque Açores” que durará até 1956 e o “Almanaque do Camponez” fundado por Manuel Joaquim de Andrade em 1917 e que ainda hoje é publicado.

Alguns destes títulos têm ainda, em pleno século XXI, bastante aceitação e, pese embora a quantidade e a qualidade de informação posta à nossa disposição por outras vias no que diz respeito às previsões do tempo, por exemplo, os “almanaques” são ainda ferramentas indispensáveis para a organização e calendarização nomeadamente dos trabalhos agrícolas.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PARA OS LIVROS NÃO SE PERDEREM


Um dia destes, ao folhear um livro escolar do “meu tempo”, não consegui evitar um sorriso ao ler, na primeira página e escrito à mão com caligrafia cuidada, o seguinte verso:
"Se este livro for perdido,
E por acaso for achado,
Para ser bem conhecido,
Leva o meu nome assinado"

Ocorreu-me então a referência que J. Leite de Vasconcelos fez a este costume publicada na Revista Lusitana, vol. VI, 1900-1901 a pag. 243, com o título:
“Para os livros não se perderem"
"É costume escrever à mão nos livros uns versos no teor dos seguintes, que encontrei em Lisboa numa miscellania do anno de 1804, e que aqui copio corrigindo a orthographia:

Se este livro for achado,
Quando venha a ser perdido,
Para ser bem conhecido,
Leva seu dono assignado;
E se acaso for emprestado,
Por algum conhecimento,
Dei-se-lhe bom tratamento,
Para que não venha a ser,
Livro do esquecimento.”

E concluía:

“Este costume, que nem é só nosso, nem é moderno, está porém hoje em decadência, e em regra limitado às crianças e ao povo.”

Esta sentença preconizada por Leite de Vasconcelos não teve, porém, aplicação imediata aqui nas "ilhas" pois que, decorridos cerca de sessenta anos, ainda era praticada.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

POR UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA

Padre Fontes
Acabei de ler e assinar a seguinte petição online dirigida ao Senhor Presidente da República:


Os abaixo assinados, conhecedores das relevantes iniciativas e actividades que, ao longo de toda a sua vida, o Padre António Lourenço Fontes, de Vilar de Perdizes, levou a efeito em prol da defesa das tradições sociais e culturais de Trás-os-Montes, em geral, e dos usos e costumes de Barroso, em particular, atraindo meios académicos e mobilizando a imprensa nacional e internacional para dar visibilidade à sua região, contribuindo assim para a recuperação, preservação e desenvolvimento turístico e económico das comunidades locais, estão convictos de que seria justo e merecido que o Exmo. Senhor Presidente da República lhe atribuísse um dos graus das Ordens Honoríficas Portuguesas como forma do reconhecimento da Nação e do Estado para com quem “por obras valerosas se vai da lei da morte libertando”.

A iniciativa partiu de um grupo de amigos do sacerdote transmontano que, desde segunda-feira, já recolheu depoimentos de pessoas das mais diversas áreas, desde o meio académico, religioso ou político, até de admiradores do Padre Fontes provenientes da Galiza.
Como pessoalmente concordo com esta petição, publico-a aqui pretendendo dar o meu contributo para a sua divulgação.

Subscreva-a também e divulgue-a pelos seus contactos.

A "cultura popular" agradece!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

À VOSSA SAÚDE...

(Postal dos CTT - anos 40 do séc. XX)

... e com votos de um Bom Ano, voltamos hoje a cantar os Reis à porta de alguns amigos, dando assim continuidade a uma tradição que (ainda) não se perdeu.