terça-feira, 11 de março de 2008

PADRE ANTÓNIO VIEIRA

Comemora-se este ano o 4º centenário do nascimento do Padre António Vieira.
Nascido na freguesia da Sé de Lisboa no dia 6 de Fevereiro de 1608, António é o primeiro filho de uma modesta família da capital. Cristóvão Ravasco e mulher Maria de Azevedo levam-no a baptizar, segundo se crê, na mesma pia baptismal onde um dia fora administrado o sacramento a Fernando Bulhões, o Santo António de Lisboa.
Aos 6 anos de idade António Vieira faz, com os pais e o irmão mais novo, a primeira de várias e penosas viagens que, durante a sua atribulada vida, irá realizar entre Portugal e o Brasil e vice-versa. Em quase todas elas irá sofrer um naufrágio.
António Vieira torna-se jesuíta por vocação e convicção desde o dia em fugiu de casa, com apenas 15 anos, e pediu refúgio aos padres da Companhia de Jesus detentores do melhor colégio da Baía.
Homem de invulgar inteligência e de uma vasta cultura foi pregador, missionário, diplomata, guerreiro e conselheiro do rei. Foi amado pelos pobres, oprimidos, escravos e índios ao lado de quem sempre lutou. Era odiado pelos nobres, ricos, colonos e até por alguns confrades jesuítas que não hesitaram em denunciá-lo e entregá-lo às garras da inquisição.
Do valioso legado que o Padre António Vieira nos deixou destacam-se os seus sermões.
Em 1654 planeia uma viagem secreta a Lisboa no sentido de sensibilizar a coroa para o caos moral que lavra por terras do Maranhão onde os colonos brancos desrespeitam, sem escrúpulos, a condição humana dos índios e negros, e ao mesmo tempo convencer o rei a legislar por forma a pôr cobro a esta situação de escravatura.
Antes, porém, na catedral de S. Luís irá pronunciar o seu mais belo sermão, o de “Santo António aos Peixes” - alusão parabólica ao estado das coisas na colónia.
À revelia das autoridades e dos brancos, embarca a 17 de Junho rumo a Lisboa, onde só chegará cinco meses depois.
Nesta longa e mais uma vez penosa viagem, a nau em que viaja enfrentará uma violenta tempestade ao largo da Ilha das Flores nos Açores. Passada a intempérie o navio é alvo de um ataque de piratas holandeses que tomam posse da embarcação. Os sobreviventes do saque, entre os quais se conta António Vieira, são embarcados num pequeno batel despojados de bens e roupas e deixados à sua sorte. Arrastados pelas correntes marítimas acabam por dar à costa da ilha Graciosa alguns dias depois sendo recolhidos pela população local. Ali permanecerão algum tempo durante o qual Vieira, depois de retemperadas as forças, exercendo o seu ónus sacerdotal, não se cansará de agradecer a Deus, por intersecção da Terceira Pessoa da Trindade, a protecção concedida. E fá-lo cantando o “terço”. Quando por fim, em Novembro, prosegue viagem para Lisboa os graciosences continuam esta prática que se generaliza primeiro a toda a ilha e depois às restantes do arquipélago. Assim começou uma tradição que perdurou até aos nossos dias.
Fontes: "Vidas Lusófonas"
Orlando Neves

1 comentário:

Anónimo disse...

o implacável Marquês do Pombal foi responsável pela expulsão da Companhia de Jesus de Portugal. pelo seu papel na educação de muitos monarcas, os jesuítas detinham cobiçada influência sobre os mesmos, o que explica a perseguição de que foram alvo.
a universidade parou, a nação ressente-se até hoje.
o ensino foi entregue a uma elite ainda mais restrita (até há bem pouco tempo esta situação mantinha-se).
Portugal estagnou enquanto pela Europa fora se multiplicavam e evoluiam as universidades, muitas geridas pela Companhia de Jesus.
as questões e dúvidas levantadas com a naturalidade de quem procura conhecer melhor e em intimidade o Mistério de Deus, são encaradas como blasfémia por ortodoxos opositores da lógica jesuíta.
o largo do Prior do Crato grita a presença da Companhia de Jesus em Angra do Heroísmo, mas durante as celebrações o único jesuíta presente no Altar representa-se pela imagem de Santo Inácio de Loyola.
Bem haja pelo post acerca da "passagem" da Companhia de Jesus pelos Açores, um tema enublado, mas encarado aqui sem os pruridos e inexplicáveis vergonhas, explicando a perpetuação de costumes religiosos.

momo