quarta-feira, 30 de abril de 2008

CANTIGAS DE MAIO

ZECA AFONSO
Cantigas de Maio
(letra do refrão: popular)

Eu fui ver a minha amada
Lá p'rós baixos dum jardim
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para se lembrar de mim

Eu fui ver o meu benzinho
Lá p'rós lados dum passal
Dei-lhe o meu lenço de linho
Que é do mais fino bragal

Eu fui ver uma donzela
Numa barquinha a dormir
Dei-lhe uma colcha de seda
Para nela se cobrir

Eu fui ver uma solteira
Numa salinha a fiar
Dei-lhe uma rosa vermelha
Para de mim se encantar

Eu fui ver a minha amada
Lá nos campos eu fui ver
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para de mim se prender

Verdes prados, verdes campos
Onde está minha paixão
As andorinhas não param
Umas voltam outras não

Refrão:Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu Ai Deus mo levou

CANTIGAS DE MAIO

Maio, Maduro Maio / Zeca Afonso

Maio maduro Maio
Quem te pintou
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou
Raiava o Sol já no Sul
E uma falua vinha
Lá de Istambul

Sempre depois da sesta
Chamando as flores
Era o dia da festa
Maio de amores
Era o dia de cantar
E uma falua andava
Ao longe a varar

Maio com meu amigo
Quem dera já
Sempre depois do trigo
Se cantará
Qu’importa a fúria do mar
Que a voz não te esmoreça
Vamos lutar

Numa rua comprida
El-rei pastor
Vende o soro da vida
Que mata a dor
Venham ver, Maio nasceu
Que a voz não te esmoreça
A turba rompeu

ADÁGIOS DE MAIO



A boa cepa Maio a deita
A erva, Maio a dá, Maio a leva
A melhor cepa, Maio a deita
A velha, em Maio, come castanhas ao borralho
Água de Maio e três de Abril, vale por mil
Diz Maio a Abril: ainda que te pese me hei-de rir
Em Maio ainda os bois estão oito dias ao ramalho
Em Maio anda a velha a comer as cerejas ao borralho
Em Maio de calor, a todo o ano dá valor
Em Maio deixa a mosca o boi e toma o asno
Em Maio espetam-se as rocas e sacham-se as hortas
Em Maio o calor a todo o ano dá valor
Em Maio verás a água com que regarás
Em Maio, a chuvinha de Ascensão dá palhinhas e dá pão
Em Maio, a quem não tem, basta-lhe o saio
Em Maio, até a unha do gado faz estrume
Em Maio, cerejas ao borralho
Em Maio, nem à porta de casa saio
Em Maio, passarinho em raio
Fraco é o Maio que não rompe uma carroça
Guarda pão em Maio e lenha para Abril
Guarda pão para Maio e lenha para Abril, porque não sabes o ano há-de vir
Maio chuvoso e Junho caloroso fazem o ano formoso
Maio chuvoso, ano formoso
Maio claro e ventoso, faz ano rendoso
Maio couveiro não é vinhateiro
Maio é o mês em que canta o cuco
Maio frio, Julho quente, bom pão, vinho valente
Maio hortelão, muita palha e pouco grão
Maio jardineiro, enche o celeiro
Maio me molha, Maio me enxuga
Maio não dá capote ao marinheiro
Maio o deu, Maio o leva
Maio pardo, ano claro
Maio pardo, ano farto
Maio pequenino, de flores enfeitadinho
Maio que seja de gota e não de mosca
Maio ventoso faz o ano formoso
Maio ventoso, ano formoso
Maio ventoso, ano rendoso
Maio venturoso, ano venturoso
Mês de Maio, mês de flores, mês de Maria, mês dos amores
O Maio me molha, o Maio me enxuga
Quando em Maio arrulha a perdiz, ano feliz
Quem em Abril não varre a eira e em Maio não racha a lareira, anda todo o ano em canseira
Quem em Maio não merenda, aos finados se encomenda
Quem em Maio relva não tem pão nem erva
Trovões em Maio, morte de padre

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O TRIUNFO DAS VACAS




As condições edafoclimáticas favoráveis dos Açores permitem uma bovinicultura em regime de pastoreio permanente, proporcionando um producto final - carne e lacticínios - de excelente qualidade.

EM MEMÓRIA DO TOIRO E DO PASTOR




Entre o Pico Redondo e os Cinco Picos à entrada da Serra do Cume, dois sítios separados por cerca de 10 Km da recta da Achada, eu conheci, pelo menos, 4 destas fálicas construções, das quais apenas uma resistiu à devastação da modernidade. Nunca tive a certeza da sua real finalidade pelo que mantenho como segura a explicação dada por meu pai quando eu tinha os meus seis ou sete anos: "são abrigos para os pastores se protegerem do gado bravo". Por essa altura a Achada era um sítio inóspito, e longinquo onde só os bravos se atreviam. As pastagens que a ladeavam eram o habitat do gado bravo, paixão ancestral do nosso povo. É pois bem possível que houvesse a necessidade de criar sítios seguros, não fosse alguém dar de caras com um toiro tresmalhado ou uma vaca brava fugida da manada. Se esta sólida e estranha construção foi concebida com esse objectivo então estamos perante um verdadeiro - talvez o último - testemunho da história da criação de gado bravo na Ilha Terceira. Mas mesmo que tenha sido outra a sua finalidade não temos dúvida em afirmar que estamos perante um monumento popular único que urge estudar e preservar. Em memória do Toiro e do Pastor.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

CAFUGAS



Forma tradicional de conservação do "milheiro" - folhagem seca do milho - na ilha Terceira. Esta prática agricola caiu definitivamente em desuso, sendo hoje raros os exemplos vivos.

sábado, 19 de abril de 2008

ADÁGIOS DE ABRIL

Abril chuvoso, Maio ventoso e Junho amoroso, fazem um ano formoso
Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado
Abril frio: pão e vinho
Abril leva as peles a curtir
Abril molhado, sete vezes trovejado
Abril, Abril, está cheio o covil.
Abril, ora chora ora ri
Ao principio, ou ao fim: Abril costuma ser ruim
As manhãs de Abril são boas de dormir
Em Abril a natureza ri
Em Abril águas mil coadas por um funil.
Em Abril águas mil.
Em Abril queima a velha o carro e o carril.
Em Abril sai o bicho do covil.
Em Abril vai a velha onde quer ir e a sua casa vem dormir.
Em Abril cada pulga dá mil
Em Abril de uma nódoa tira mil
Em Abril lavra as altas, mesmo com água pelo machial.
Em Abril vai onde deves ir, mas volta ao teu covil.
Frio de Abril, nas pedras vá ferir
Guarda pão para Maio e lenha para Abril.
Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir.
Não há mês mais irritado do que Abril zangado.
Negócio de Abril só um é bom entre mil.
No princípio ou no fim, costuma Abril a ser ruim.
Por Abril, corta um cardo e nascerão mil.
Quando vem Março ventoso, Abril sai chuvoso.
Quem em Abril não varre a eira e em Maio não rega a leira, anda todo o ano em canseira.
Uma água de Maio e três de Abril valem por mil.
Vinha que rebenta em Abril dá pouco vinho para o barril.