terça-feira, 29 de dezembro de 2009

NATAL DOS SIMPLES

...ou uma forma simples de desejar

"BOM NATAL!"

sábado, 5 de dezembro de 2009

UM NÓVEL CONFRADE

(foto retirada do Blog Bagos D'Uva)

Em sessão solene, que decorreu no salão nobre dos Paços do Concelho da Praia da Vitória, foram hoje entronizados membros da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos várias personalidades e instituições que, por seu mérito ou dedicação, mereceram por parte da Confraria essa distinção pública. Entre eles está o Grupo de Baile da Canção Regional Terceirense que vê assim, uma vez mais, reconhecido publica e institucionalmente o seu desempenho notável no campo da preservação da cultura popular.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A GUITARRA PELA BOCA DE VINICIUS



Uma mulher chamada guitarra

Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam un mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina - viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo - o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres- contrabaixo.Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em beneficio de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.Mesmo uma mulher-bandolim (vale dizer: um bandolim), se não encontrar um Jacob pela frente, está roubada. Sua voz é por demais estrídula para que se a suporte além de meia hora. E é nisso que a guitarra, ou violão (vale dizer: a mulher-violão), leva todas as vantagens. Nas mãos de um Segovia, de um Barrios, de um Sanz de la Mazza, de um Bonfá, de um Baden Powell, pode brilhar tão bem em sociedade quanto um violino nas mãos de um Oistrakh ou um violoncelo nas mãos de um Casals. Enquanto que aqueles instrumentos dificilmente poderão atingir a pungência ou a bossa peculiares que um violão pode ter, quer tocado canhestramente por um Jayme Ovalle ou um Manuel Bandeira, quer "passado na cara" por um João Gilberto ou mesmo o crioulo Zé-com-Fome, da Favela do Esqueleto.Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado - contra o peito - lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seu tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranqüila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.

in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)
in Poesia completa e prosa: "Para viver um grande amor"

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O CAVAQUINHO DE CABO VERDE

-
Mais a sul, ainda no atlântico, nova paragem, agora em Cabo Verde.
A receber-nos o instrumento "mais malcriado" do país: o cavaquinho.
-
Como recurso vamos utilizar novamente um video extraído dos "Cordofones tradicionais da Macaronésia" fruto do projecto "Chronos"*.
-
*Projecto realizado no âmbito do Programa Interreg III com as parcerias do Instituto Açoriano de Cultura, Universidade da Madeira, Direcção Regional de Educação da Madeira, OVGA Açores e Direccion General de Educacíon del Gobierno de Canarias, que teve por objectivo realizar vários cursos de formação online sobre cultura e história dos três arquipélagos da Macaronésia, juntando ainda o de Cabo Verde.
.

sábado, 14 de novembro de 2009

MAIS NADA FOI DECRETADO...


Títulos da cidade de Angra

Tendo sido esta cidade condecorada com o título de - "Mui nobre e sempre leal cidade de Angra" - pelos feitos heroícos praticados por seus fieís habitantes na restauração de Portugal em 1641, e tendo outrossim estas ilhas sido declaradas adjacentes ao Reino de Portugal por alvará de 26 de Fevereiro de 1771, e ultimamente contempladas como província do reino, §.1º, artigo 2º, título 1º da Carta Constitucional: há por bem esta Junta Provisória, encarregada de manter a legítima autoridade d'el-rei o Sr. D. Pedro IV, declarar em nome do mesmo Augusto Senhor, que todas as nove ilhas dos Açores são uma só e única província do reino, e que esta cidade de Angra é a capital da província dos Açores. As autoridades a quem competir assim o tenham entendido, cumpram e façam cumprir: e o Secretário dos Negócios Interinos faça dirigir cópia deste decreto às estações competentes e autoridades na forma do estilo.

Angra, 28 de Outubro de 1828. - Deocleciano Leão Cabreira - João José da Cunha Ferraz - José António Silva Torres. - Referendado: Alexandre Martins Pamplona.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O TIMPLE

Navegando ainda por mares calmos da Macaronésia Atlântica, vamos fazer uma paragem no arquipélago das Canárias.

Aqui, utilizando uma vez mais como recurso o excelente trabalho "Cordofones tradicionais da Macaronésia" fruto do projecto "Chronos"*, vamos conhecer o "timple".

*Projecto realizado no âmbito do Programa Interreg III com as parcerias do Instituto Açoriano de Cultura, Universidade da Madeira, Direcção Regional de Educação da Madeira, OVGA Açores e Direccion General de Educacíon del Gobierno de Canarias, que teve por objectivo realizar vários cursos de formação online sobre cultura e história dos três arquipélagos da Macaronésia, juntando ainda o de Cabo Verde.

sábado, 3 de outubro de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - o BRAGUINHA ou MACHETE

Neste périplo pelos instrumentos musicais do mundo vamos fazer uma paragem no arquipélago e Região Autónoma da Madeira. Desta feita para conhecermos o "Braguinha" ou "Machete”.
Quando alguém se propõe a estudar um instrumento musical quase sempre começa por se preocupar em encontrar uma justificação para o nome com que é conhecido. As teorias, quase sempre desenvolvidas à volta de pressupostos (uns mais bem fundamentados do que outros) muitas vezes falham por limitarem a sua análise a uma visão temporal baseada em falsos pressupostos, isto é, numa perspectiva de hoje transposta para um, dois ou três (senão mais) séculos atrás. Por outro lado, quase sempre caímos no erro de termos como verdade intocável a opinião de alguém que, embora com créditos justamente adquiridos, opinou sobre este ou aquele outro assunto que analisou de forma mais ou menos superficial, raramente tendo em linha de conta a distancia que separa a sua cátedra do mundo real (por exemplo uma visão urbana de uma realidade rural) sonegando à nossa inteligência a possibilidade de exercitar outras teorias.

Vem este arrazoado todo a propósito do nome deste instrumento popular madeirense e da interessante teoria desenvolvida Roberto Moritz publicada no seu “blog” “Machetes do Mundo” que eu, pessoalmente, acho verosímil.

Diz o professor e músico:

“Esta é uma teoria desenvolvida por mim, que passo a descrever, mesmo sem conhecimento de documentos que a possam comprovar:

A Madeira desde há muito tempo que é visitada pelos ingleses, os quais foram deixando marcas que ainda hoje estão bem presentes - como por exemplo, muitas das grandes quintas construídas.
Nestas longas décadas de visitas, procuravam a Madeira pelas mais diversas razões, em diversas áreas, desde a botânica, turismo, comércio, etc, e sempre se interessavam pela nossa cultura e costumes, mantendo um contacto constante com os naturais de cá(?).
De certo que, entre todos esses visitantes, haveria sempre algum que era músico instrumentista, e que tomaria interesse em saber com que instrumento é que os madeirenses se entretinham.
Foi num desses contactos que um guitarrista inglês, ao encontrar um grupo de populares, se deparou com um deles a tocar uma espécie de viola muito mais minúscula que o habitual. Curiosamente aproximou-se e começou a dialogar (mesmo com algumas dificuldades linguísticas) com o dito tocador e, após uns minutos de conversa, viu-se tentado a pedir para experimentar aquela pequena viola...
Só que o problema é que aquilo não era nada do que estava habituado, e logo se deparou com dificuldade em colocar os dedos pela escala, em acertar com as cordas, e a conseguir tirar alguma melodia, pelo que uns instantes depois, já desesperado, gritou: "Man! sh*t!!".
Desde então os populares, que sempre tiveram em conta o nível de educação dos ilustres que os visitavam de outras terras, começaram a chamar àquele instrumento de Machete.”

Uma delícia!

Para um melhor conhecimento deste pequeno instrumento aqui fica um trabalho muito interessante, em vídeo, sobre a “Braguinha da Madeira” com o contributo do “violeiro” Carlos Jorge e dos músicos Roberto Moniz e Roberto Moritz.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O BRINQUINHO



O “brinquinho” é um instrumento musical da família dos “idiofones” e um “ex-líbris” da ilha da Madeira. Serve exclusivamente para acompanhamento das danças tradicionais daquela Região Autónoma e é composto por bonecos de pau vestidos com o traje tradicional da região, castanholas, fitilhos e caricas, dispostos de forma ordenada numa cana de roca e que são agitados verticalmente pelo executante.
O “bailinho da Madeira” ou apenas o “bailinho” é uma das músicas portuguesas mais conhecidas em todo o mundo. Por estar associada a ele, a imagem do “brinquinho” está também largamente difundida.
O "brinquinho" apesar de ser o instrumento regional de aceitação popular é de criação relativamente recente e, tal como o “bailinho”, terá surgido quando começaram a aparecer os primeiros grupos folclóricos na primeira metade do século XX.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

NOSSA SENHORA DOS MILAGRES DA SERRETA - A FESTA DA FÉ

Acabaram-se as férias. E logo na semana da Serreta, ainda a tempo de cumprir o sacramental sábado e de gozar o feriado (tolerância?) da segunda-feira.
A festa de Nossa Senhora dos Milagres da Serreta é, na ilha Terceira, um caso particular de fé, disfarçada por vezes em deleites profanos, cuja origem se esfuma na penumbra do tempo.

Do "Almanach Açores para 1904" respiguei o seguinte texto que nos dá conta da provável origem desta festividade e da sua evolução ao longo dos tempos:

“A risonha freguesia está situada no cabo ocidental da ilha, voltada a sudoeste, num terreno alto sobranceiro ao mar, tendo uma área de 12 quilómetros quadrados.
O seu nome tem origem na serra que lhe fica eminente pelo norte e da qual provem os nevoeiros ali tão frequentes.
Ao título do orago da freguesia – Nossa Senhora dos Milagres – estão ligadas recordações e tradições encantadoras.
Segundo a tradição, nos fins do século XVI, um piedoso sacerdote, vítima duma injusta perseguição, ali se foi estabelecer.
Eis a lenda piedosa e poética da devoção à Virgem dos Milagres:

Havia um velho padre, velho e bom santo homem que, para fugir do mundo e dos homens, tomou o seu bordão e foi por serras e montes à procura de um ermo onde pudesse orar. Foi-se embrenhando pelos matos, mais e mais até não ouvir outros ruídos que os do vento agitando as florestas e os do mar quebrando-se nos alcantilados rochedos.
O venerando sacerdote conseguiu o que tão ardentemente desejava, por entre penas, trabalhos e privações de toda a ordem. Chegou à Serreta exausto de forças, mas vigoroso de fé e de confiança. Era bem aquele lugar o que Nossa Senhora lhe havia indicado numa visão encantadora e doce, visão que lhe enchia a alma inteira, que o alentava, que o fortalecia. De suas próprias mãos, ali onde era mais áspera e selvagem a terra, erigiu uma modesta e pequenina capela, onde colocou a imagem da Virgem, que sempre o acompanhou. Foi ali que orou, prostrado ante a mãe de Deus durante o resto dos seus dias, "descuidoso" das glórias vãs do mundo, longe do bulício das povoações, na paz da consciência, no silêncio do ermo!
Anos depois da morte do piedoso sacerdote que construíra a primitiva e singela capela, onde acorria todos os anos muito povo em romagem, teve de transferir-se a imagem para a paroquial das Doze Ribeiras, porque os romeiros, pelo abandono em que estava a capela, praticavam ali actos pouco edificantes.
Em 1762, ao saber-se por comunicação do Conde de Oeiras, que as tropas espanholas tinham entrado em Portugal, várias pessoas importantes da ilha e oficiais da guarnição, no intuito de pôr a Terceira em estado de repelir um ataque, percorreram o litoral escolhendo os locais para construir fortificações. Chegando às Doze Ribeiras, invocaram auxílio de N.ª S.ª dos Milagres, obrigando-se a fazer-lhe festas solenes se a ilha não fosse atacada. Assim sucedeu. A paz foi assinada. Dois anos depois os peticionários que se ficaram chamando "Escravos da Senhora" lavraram um termo firmando aquele voto, com a data de 11 de Setembro de 1764. O voto cumpriu-se solenemente, com a maior grandeza e piedade.
Dez anos mais tarde, em 13 de Setembro de 1772, na freguesia das Doze Ribeiras, lavrou-se um acordam pelo qual os "Escravos" convieram na reedificação da ermida da Serreta, obtendo desde logo na ilha grandes donativos para a obra.
Não obstante tão excelentes propósitos, 25 anos depois, em 1797, ainda não estava reedificada a capela. Como por essa ocasião ameaçasse o reino o perigo da ocupação francesa, foi revalidado o voto com referência à festa, obrigando-se todos a cumprir o propósito da reedificação da pequena igreja. Este novo voto tinha data de 26 de Julho de 1797.
Passado, porém, o perigo os votos foram esquecidos. Em 1818 o general Francisco António de Araújo obedecendo ao plano geral de levantar as capelas mores das igrejas que ao povo competia acabar, nos lugares em que o desenvolvimento da população o exigisse, e sabendo dos votos feitos em 1762 e 1797, promoveu a construção duma igreja na Serreta, por meio de donativos de alguns devotos e do Estado, chegando a obter o levantamento das paredes. As perturbações políticas da época obstaram conclusão da obra.
Em 1842, o conselheiro José Silvestre Ribeiro, governador civil do distrito, conseguiu levar a efeito a construção da igreja coadjuvado pelos senhores Visconde de Bruges e brigadeiro Vital de Bettencourt Vasconcelos de Lemos, que por escritura de 30 de Agosto de 1842 fez doação de 4&000 reis anuais para património da nova igreja, e outros cavalheiros angrenses. A 10 de Setembro do mesmo ano realizava-se a trasladação da imagem de N.ª S.ª dos Milagres para a sua nova capela, sendo criado ali um "curato", até que por decreto de 16 de Outubro de 1861 e provisão do bispo D. Frei Estevam, de 24 de Dezembro do mesmo ano, foi criada a paróquia e freguesia denominada de Nossa Senhora dos Milagres, que principiou a funcionar em 1 de Janeiro de 1862.
Quando em 2 de Julho de 1847 o sempre lembrado sacerdote padre Francisco Rogério da Costa, tomou conta do "curato", encontrou a pequena ermida absolutamente carecida de tudo. Apenas existia a imagem de N.ª S.ª dos Milagres acomodada num nicho e alguns pobres paramentos.
Cinco anos depois, teve de abandonar o lugar, deixando feita a capela-mor, um camarim para o S. Sacramento, dois altares laterais onde se dizia missa e ornamentos suficientes para o culto. Junto à ermida tinha sido construído um belo passal.
Todos estes melhoramentos consegui-os o zelo fervoroso do padre Rogério, auxiliado largamente pelas esmolas de muitos cavalheiros de Angra e em geral, do povo de toda a ilha.
Durante muitos anos as festas eram feitas pelas principais famílias de Angra. Hoje, porém, são custeadas pelas esmolas dos fiéis.
As acanhadas dimensões da igreja e o aumento progressivo da população, reclamavam desde muito tempo a edificação de um novo templo.
Coube ao vigário reverendíssimo Francisco Lourenço do Rego, sacerdote de alto espírito, de extremada prudência e de inquebrantável tenacidade, levar a vias de realização o empreendimento.
Em 29 de Abril de 1895 procedia-se à cerimónia da bênção da primeira pedra da nova igreja.
As obras iniciaram-se logo e, sete anos passados, estão quase concluídas as paredes da nova e elegante igreja, que ficará sendo um dos mais formosos templos da ilha.

As festas anuais que ali se celebram são imponentíssimas. Por essa ocasião, um dos aspectos que fica perdurável no espírito do “turiste” é, sem dúvida, o Pico da Serreta, no dia da corrida de touros, onde por entre o verde escuro do mato que o reveste, se destacam as variegadas cores claras e vivas, dos trajos de milhares de pessoas de todos os pontos da ilha que dali vão gozar alegremente a popular diversão tão querida do povo terceirense e complemento fatal de todas as festas quer profanas quer religiosas.

Dr. Ferreira-Deusdado”

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAS DO MUNDO - O HARDENGER

O “hardanger” é um instrumento de corda friccionada tradicional da Noruega.
De aspecto muito semelhante ao violino tem, para além das quatro cordas padrão deste, quatro ou cinco cordas denominadas “understrings” ou “cordas simpáticas” que ressoam sob a influência daquelas, proporcionando uma agradável ressonância. Na sua decoração são usados motivos zoomórficos, normalmente um dragão, o leão da Noruega ou, não raras vezes, uma cabeça de mulher como remate do braço. São também utilizadas incrustações de madre pérola sobre a escala e decorações a tinta preta – rosing – no corpo do instrumento.
Vimo-lo recentemente tocado pelo representante norueguês no XXV Festival de Folclore dos Açores o grupo Strilaringen de Nordhordland.

Ao contrário de muitos outros países europeus, a Noruega possui uma tradição continuada de música folclórica, passada de geração para geração não havendo, por isso, qualquer necessidade de um re-despertar para este tipo de música.
A música folclórica norueguesa, tanto vocal como instrumental, é normalmente executada por solistas. A música instrumental é tocada geralmente no violino ou no violino de Hardanger, sendo este último considerado o instrumento nacional da Noruega. Possui uma bela decoração e é construído de forma um pouco diferente da de um violino vulgar. Os peritos discordam quanto ao facto de o violino de Hardanger ter evoluído a partir do violino ou de instrumentos de corda medievais. Entre outros instrumentos tradicionais de música folclórica usados na Noruega contam-se a harpa do judeu (munnharpe), várias flautas, o chifre de carneiro (bukkehorn), o chifre de madeira (lur) e a cítara norueguesa (langeleik). Alguns destes instrumentos têm origens muito antigas. Embora alguma da música folclórica norueguesa seja também muito antiga, uma grande parte do repertório teve origem apenas no século XIX. O repertório instrumental divide-se normalmente pelos mais recentes tipos de música de dança tradicional, influenciada pela Europa central (gammaldans), tais como valsas, reinlenders e polcas, e os tipos mais antigos (bygdedans) como a springar, a gangar e a lyarslått (conhecidas internacionalmente pelos seus nomes noruegueses). O uso de cordas de bordão no violino de Hardanger tradicional, combinado com o recurso a grande número de afinações, confere à música uma rica variedade de harmonias tonais. Esta circunstância serviu de fonte de inspiração para vários compositores noruegueses, incluindo o famoso Edvard Grieg.
Todos os anos se organizam dois concursos nacionais. O Festival Nacional de Música de Dança Folclórica é um concurso de gammeldans, enquanto que o Concurso Nacional de Música Tradicional abarca a mais antiga tradição bygdedans de toque de violino e cantares, dança folclórica e domínio de instrumentos mais antigos de música folclórica. Outros locais relevantes onde o público e os músicos folclóricos se reúnem incluem o Festival de Música Folclórica de Førde, o Festival Internacional de Música Folclórica de Telemark, em Bø, e o Festival Jørn Hilme, em Valdres.

Fonte: Centro de Informação Musical da Noruega / The Norwegian Traditional Music and Dance Association


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O BAGPIPE

Este aerofone é característico do sudoeste da Boémia na República Checa. Juntamente com o clarinete e o violino é habitualmente usado para tocar a música Chodsko tradicional da região de Domažlice.
O fole, que fica sob e é accionado pelo braço esquerdo do executante, fornece ar ao saco que, sob pressão do braço direito, alimenta, num fluxo contínuo, os tubos de palhetas. O “drone pipe” produz um som constante e passa sobre o ombro direito do músico, para trás, virando em ângulo recto para baixo. O tubo com orifícios onde a melodia é tocada fica à frente do flautista e termina, tal como o “drone pipe”, com um corno ornamentado com latão ou prata.
Típico dos “bagpipes” é o elemento decorativo zoomórfico, quase sempre representando uma cabeça de bode.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

XXV FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLORE DOS AÇORES - REPRESENTAÇÕES

O público que lotou os lugares disponíveis na Monumental de Angra do Heroísmo na noite de sábado, dia 15 de Agosto, na Gala de Encerramento do XXV Festival Internacionl de Folclore dos Açores, foi um digno representante do povo da Terceira.



Açores
Grupo Folclórico da Casa do Povo de Santo Espírito - Santa Maria

Noruega


Turquia


Grécia


Portugal
Rancho Folclórico da Freguesia da Lapa


Eslováquia


França

Roménia


Portugal
Grupo Etnográfico Rusga de Joane


Paraguai


Filipinas


Espanha

domingo, 16 de agosto de 2009

XXV FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLORE DOS AÇORES - ENCERRAMENTO

Excelente!

É o único adjectivo que me ocorre para definir o espectáculo de encerramento do “XXV Festival Internacional de Folclore dos Açores”, organizado pelo COFIT que, na noite do último sábado ocorreu na Monumental de Angra do Heroísmo.
Se à partida, e tal como já anteriormente tínhamos afirmado, os oito Grupos estrangeiros e os três nacionais que iriam participar nos davam garantias de qualidade, as expectativas não saíram defraudadas. Diria mesmo que foram ultrapassadas.
Cumprindo o horário, aliás como tem sido apanágio desta organização, o espectáculo começou com uma de duas novidades, catalogadas de “surpresas”: a execução de dois temas populares da ilha Terceira – lira e os olhos pretos – por uma orquestra composta por músicos de todos os Grupos participantes. Os arranjos, a coordenação e direcção de orquestra estiveram a cargo de José João Silva. O resultado foi surpreendente e fez eclodir a primeira grande ovação da noite.
Seguiram-se as exibições de todos os grupos participantes que, sem excepção, receberam do público – cerca de cinco mil espectadores – calorosos e justos aplausos.
Para encerrar com chave de ouro a segunda “surpresa” da noite: uma dança, a que chamaram da “alegria”, com pares de dançarinos de todos os Grupos participantes. Foi um momento empolgante e emocionante que tocou fundo a todos os que tiveram o privilégio de assistir.
Parabéns ao COFIT, ao seu presidente Dr. Cesário Pereira e a toda a equipa que coordena pelo excelente trabalho que têm vindo a desenvolver na organização do Festival Internacional de Folclore dos Açores que, salvo pequenos detalhes de pormenor, é o melhor Festival de Folclore de Portugal.


sábado, 15 de agosto de 2009

XXV FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLORE DOS AÇORES

Ele aí está!
Cheio de vida, cor, alegria e juventude: O XXV FESTIVAL INTERNACIONAL DE FOLCLORE DOS AÇORES. O melhor festival de sempre, na opinião dos dirigentes do COFIT, entidade que o organiza.
Tendo em conta os grupos estrangeiros que nele participam, e que ontem desfilaram pela rua da Sé, novamente ornada com uma moldura humana notável, as expectativas são elevadas para o espectáculo de encerramento que hoje terá lugar na monumental de Angra do Heroísmo. E se o festival fosse apenas o encerramento poderia, desde já e em antecipação, estar de acordo com a organização na classificação que dele fazem. Mas o Festival não é só o seu encerramento (e ainda bem).
De todas as outras iniciativas que enriquecem este Festival quero destacar a Feira de Artesanato e Sabores Tradicionais que em boa hora e desde há alguns anos a esta parte se tem realizado. Uma aposta ganha desde o seu início pela envolvência e pela animação que traz ao coração da cidade durante uma semana. É aqui que os Grupos locais têm a possibilidade de se exibirem e de mostrarem aos de casa, mas sobretudo aos de fora, o resultado do trabalho que efectuam ao longo do ano e, no seu conjunto, darem uma imagem da qualidade, ou falta dela, do "folclore" que por aqui se faz. E é aqui que entro em desacordo com a avaliação previamente anunciada e bastante protelada feita pela organização do Festival.
Se esta Feira é parte integrante do Festival e se existem parâmetros de qualidade objectivos que permitem à organização classificar os grupos que vêem de fora de bom ou de mau, então esses mesmos critérios deviam ser utilizados para os Grupos locais.
É lamentável a qualidade que alguns dos nossos Grupos exibem. A imagem que dão é tão má que envergonham todos aqueles que, nos seus Grupos, trabalham para se apresentarem de forma a dignificar aquilo que se dizem representar.
Este modelo de “tudo ao molhe e fé em Deus” tem de ser revisto, custe o que custar.
O COFIT e o Festival Internacional de Folclore dos Açores não podem sair prejudicados na sua avaliação pela actuação menos digna dos nossos Grupos.
Mas também, e por isso, cabe-lhe a ingrata missão de os seleccionar.
Para bem de todos mas com evidentes benefícios para os grupos e, obviamente, para o Maior Festival de Folclore dos Açores.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - A LUTONG


A "lutong" é uma cítara de tubo característica dos povos Kenyah e Kayan de Sarawak, na ilha de Bornéu, Malásia. É um instrumento utilizado pelas mulheres, com uma sonoridade muito suave, que é normalmente utilizado para acompanhar o canto e, ocasionalmente, alguma dança.
É feito a partir de um tubo de bambu com quatro cordas que se estendem no comprimento deste. Puxadas a partir da casca, esticadas por pequenos paus, são mantidas no lugar por uma trança de vime colocada em cada extremidade.
Crê-se que o homem que tocar este instrumento será, mais cedo ou mais tarde, atacado por um tigre.

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O ER HU

O “er hu” é um “violino” de duas cordas muito popular na China. O seu nome provém das palavras "dois" e "bárbaros", e terá chegado há mais de um milhar de anos, provavelmente durante a Dinastia Tang entre os séculos VII e X, trazido por povos tribais do norte.
A sua utilização foi, durante séculos, indispensável no acompanhamento das óperas tradicionais.
Do “er hu” conseguem-se extrair sons maviosos, doces e brilhantes desde que o executante seja detentor de um alto grau de virtuosismo.
O moderno “er hu” tem duas cordas metálicas que estão muito próximas um da outra.
A caixa de ressonância é tubular, coberta com pele de cobra por um dos lados. O braço é de madeira de alta densidade com cerca de 80 centímetros. O arco é de bambu e crina de cavalo.
O instrumentista toca o “er hu” sentado, apoiando a caixa de ressonância sobre a perna esquerda, enquanto a mão esquerda segura o instrumento e a mão direita controla o arco.
De timbre suave e claro, o “er hu” pode alcançar 3 oitavas.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - A KEMENCHE

A “kemenche” insere-se num grupo de instrumentos de corda friccionada com arco que tanto se pode encontrar na Ásia como na Europa de Leste e Norte de África e não é mais do que uma adaptação de violinos gregos e turcos. Possui três cordas de tripa cuja afinação mais comum é em Ré'/D' - Sol'/G' - Ré/D.
Na sua construção, normalmente, as costas são escavadas de uma só peça de madeira de cedro ou cipreste sendo o tampo de abeto.

O termo “kemenche” (Turco: Kemence, Armênio: K'amântcha - Քյամանչա, Laz: Ç'ilili - ჭილილი, Persa: کمانچه, Grego: κεμεντζές) é usado para descrever dois tipos de instrumentos musicais de três cordas:
1- um alaúde em forma de garrafa muito próximo da Kemane da Capadócia, que se encontra na região do Mar Negro da Ásia Menor, e também conhecida como a "kementche do Laz" ou "Pontic kemenche";
e
2 - um alaúde em forma de pêra , muito semelhante à “lyra” bizantina, encontrado principalmente em Istambul e regiões do Leste da Turquia, conhecida como “kemenche” clássica.
Ambos os tipos de “kemenche” são tocados na posição vertical: apoiada sobre o joelho, quando o executante está sentado, ou à sua frente quando em pé mas sempre com o “braccio” para cima. O arco do “kemenche” é chamado de “doksar” (grego: δοξάρι), termo que em grego significa “proa”.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O GUSLE

O "gusle" é o instrumento musical nacional da Sérvia e é uma espécie de rebeca com uma só corda.
Era o instrumento preferido para acompanhar os longos "poemas épicos" que, cantados, são parte integrante da música tradicional balcânica.
Os "cantadores de histórias" conhecidos por "guslari" eram também os "cantadores de notícias" que, pelas ruas, divulgavam os acontecimentos mais recentes e, assim, mantinham informada a população.
O “gusle” ou “gusla” (Croata: gusle, Sérvio: гусле, Montenegrino: gusle/гусле, Albanês: lahuta, Romeno: lauta, Búlgaro: o гусла) é também usado noutros países dos Balcãs e na região dos Alpes Dináricos.
O termo "gusle/gusli/husli/husla" é comum a todos os povos Eslavos e genericamente aplica-se a um instrumento musical com cordas. O “gusle” não deve ser confundido com o “gusli” Russo, que pertence ao grupo dos “saltérios”; nem com o termo checo “housle” aplicado para o violino.
O “gusle” tem muitas similaridades com a lira que foi largamente usada em todo o império Bizantino e pode ainda ser ouvido, em muitas regiões que dele faziam parte, quase exactamente da mesma forma.

domingo, 9 de agosto de 2009

UMA GAITADA PELO SOLNADO

A minha homenagem ao homem que ensinou o país a rir.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - O CHARANGO

Quando os conquistadores espanhóis chegaram à América do Sul faziam-se acompanhar pela “vihuela”, instrumento de cordas com formato parecido à guitarra e que atingia, ao tempo, o seu máximo esplendor na península Ibérica.
Desde logo o povo nativo apaixonou-se pelos sons do novo instrumento do qual pretenderam produzir réplicas. No entanto faltava-lhes a tecnologia para moldarem a madeira.
Como a necessidade aguça o engenho facilmente resolveram o problema com recurso à matéria-prima à sua disposição: conchas de tatu.
Assim nasceu, por volta de 1547 em Potosí na Bolívia, o “charango”, uma espécie de um pequeno alaúde com dez cordas, que depressa se estendeu a outras regiões e países da Cordilheira dos Andes: Perú, Argentina, Chile, e Ecuador.
Diz o povo que o tatu tem que estudar cinco anos num conservatório para se tornar num bom “charango” e, no mesmo tom de graça, que é a única criatura que faz música após a morte.
Muito embora a parte de trás do instrumento seja tradicionalmente formada a partir de um tatu hoje, muitos dos melhores “charangos” são construídos com recurso à madeira.
O tamanho é o que na verdade define o instrumento: de maneira geral, 66 cm, com uma escala de aproximadamente 37 cm. A construção típica é de uma única peça no corpo e braço, cravelhal e cravelhas de guitarra clássica, tampo de abeto e uma certa ornamentação. Tamanho e formato da boca da caixa são altamente variáveis e podem ser de duplas crescentes, buraco redondo, oval ou mesmo múltiplos buracos de arranjo variado.
O “charango” tem cinco pares de cordas que afinam em GCEAE. Nesta afinação todas as dez cordas são afinadas dentro de uma oitava. Os cinco pares ficam elevados da seguinte forma (do quinto par ao primeiro): gg cc eE aa ee.

sábado, 1 de agosto de 2009

INSTRUMENTOS MUSICAIS DO MUNDO - A NYCKELHARPA


De entre os vários aspectos que me suscitam curiosidade nas culturas populares tradicionais, a música e os instrumentos que a produzem estão no topo do meu interesse. Através dos instrumentos musicais e do seu conhecimento resultam importantes pistas que nos permitem perceber melhor outras vertentes menos objectivas dessas culturas.

Se recuarmos até à baixa idade média – séc. VIII /IX – iremos encontrar sinais da existência de um instrumento musical com características muito peculiares que, pelo seu aspecto, nos faz lembrar uma sanfona tocada com arco ou um violino com teclas não sendo, no entanto, nem um nem outro: é a “nyckelharpa
O testemunho mais antigo que se conhece deste instrumento é datado de 1350 e pode ser observado nos relevos que ornam uma das portas da igreja de Källunge na maior ilha sueca, e também condado, de Gotland, berço dos Godos nossos conhecidos.
A sua difusão e popularidade acontecem, por toda a Europa, a partir do sec. XVI e dele dão conta documentos que vão desde a Alemanha até à Itália.
Conhecem-se hoje, pelo menos, 4 variantes de “nyckelharpas” mas a mais vulgar é armada com 16 cordas que se friccionam com um arco manipulado pela mão direita enquanto as 37 teclas se accionam com a mão esquerda.
Este instrumento é hoje, tal como no passado, exclusivamente construído de forma artesanal, daí, provavelmente, a sua raridade. É feito, normalmente, com a madeira disponível no norte da Europa – o pinho - e é considerado o instrumento tradicional por excelência da Suécia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A NOITE EM QUE A LUA PERDEU O ENCANTO

Estava no CISMI em Tavira a cumprir serviço militar, ao tempo, obrigatório. Poucos dias depois de ter terminado a especialidade de “atirador” do curso de “Cabos Milicianos” e, por isso, já autorizado a frequentar a “sala da classe”. Foi nessa sala, em directo, pela televisão, que pude testemunhar, ainda que incrédulo, os primeiros passos do homem na Lua.
O cansaço provocado pelas longas horas de vigília e a quantidade de cerveja ingerida não eram propícios à clarividência exigida a uma testemunha credível. E, reconheço hoje, com irreparável prejuízo para a minha memória que, pese embora os quarenta anos de distância, não consegue filtrar o essencial do acessório de forma a que me traga, com exactidão, a imagem do facto histórico e dos acontecimentos relevantes que o envolveram.
Mas não consigo esquecer que foi nessa noite quente do Julho algarvio que a lua perdeu, para mim, todo o seu encanto. Aquela veste de donzela imaculada que sempre a envolvera rompia-se ali, à vista de toda a gente, sem nenhuma reserva de pudor. A sua virgindade acabava de ser sacrilegamente conspurcada pelo pé de Neil Armstrong.
O meu avô, como era costume, acordou cedo no dia seguinte. Olhou para o crescente da lua e disse para os seus botões: a mim não me enganam! Só vou acreditar que lá chegaram quando encontrarem o tal homem com o molhe de couves às costas.
Desde então nunca mais voltamos a falar sobre a lua.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

PARABÉNS

O Grupo em 1967, vendo-se ao centro a poetisa Maria do Céu e ao seu lado direito Henrique Borba, seus principais mentores.

O Grupo de Baile da Canção Regional Terceirense (uma das minhas paixões) completa hoje 43 anos sobre a sua primeira apresentação pública, data com que oficialmente marca a sua fundação. Durante os primeiros 11 anos de actividade esteve ligado à Sociedade Recreio dos Artistas de Angra do Heroísmo, emancipando-se dela em 1978. A partir de então tem trabalhado ineterruptamente na recolha, estudo e divulgação dos vários legados que, no seu todo, constituem a cultura popular dos Açores, com especial infoco na da Ilha Terceira.
Este ano, o Grupo comemorará a efeméride na Ilha das Flores onde, a convite da respectiva Organização, vai participar na Festa do Emigrante.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

À VIOLA OU À GUITARRA...

...a riqueza melódica do cancioneiro popular açoriano não sofre contestação. Mas se necessário fosse ir além da avaliação resultante da nossa sensibilidade e intuição individuais, teriamos, como prova, o interesse que ele tem suscitado, desde sempre, aos eruditos da música.
Também os mais celebrados intérpretes nacionais frequentemente recorreram e recorrem a esta fonte para dela colherem inspiração que recriam para nosso deleite: Adriano, Zeca, Amália, Paredes, Júlio Pereira, Brigada de entre muitos outros, como esta interessante adaptação num arranjo e interpretação de Frias Gonçalves.

terça-feira, 7 de julho de 2009

MAESTRO PADRE TOMÁS BORBA


Tomás Borba (Conceição, Angra do Heroísmo, 23 de Novembro de 1867 — Lisboa, 12 de Fevereiro de 1950), foi um sacerdote católico, músico, compositor e professor. Destacou-se não apenas como erudito mas também como um inovador na pedagogia da Música em Portugal.Ao longo da sua carreira foi professor de vários vultos da música portuguesa como Fernando Lopes Graça (co-autor, com Tomás de Borba, do "Dicionário de Música"), os irmãos Luís e Pedro de Freitas Branco, Eduardo Libório, Rui Coelho e Ivo Cruz, além de Bento de Jesus Caraça.
Tal como Francisco Lacerda, o estatuto de vulto nacional, com reconhecimento internacional, na área da música erudita, nunca o afastou das suas raízes etno folclóricas. Pelo contrário, deu-lhes sempre uma atenção previligiada materializada em inúmeros textos publicados. Como o que a seguir transcrevo, respigado da Revista Insula de Julho/Agosto de 1932:

"O NOSSO FOLCLORE"
Há muita gente que, mesmo exercendo aqui funções de mando, orientadoras, ignora o que sejam aquelas pedras que, há quantos séculos ninguém sabe, amararam no atlântico e foram depois baptizadas, com nomes de formusura, pelos portuguêses que as encontraram então moirinhas, desconhecedorass do mundo, encamisadas de verdura e flores tão virgens de contactos maleficientes, que nunca conhecera outro senhor que o seu noivo único, Portugal, em cujos braços se acalentaram num lindo sonho de amor, de que nunca mais foi possível despertar.

Foram sempre portuguêsas as ilhas adjacentes. O continente mandou para lá, não colonisantes, mas povoadores, que ali se fixaram, irmanados no mesmo sentimento de Patria, acobertando-se sob a mesma bandeira quinada, professando a mesma religião, falando a mesma língua, cantando os mesmos heroís, as mesmas alegrias, as mesmas aventuras.

Não há, nas ilhas, sombra de formas dialectais.

Se não fora o oceano, poderia dizer-se que a província açoriana está mais próxima da metrópole que muitas províncias arraianas. E é ainda esta massa de água que banha os calhaus floridos, que os lava e lustra, que lhes dá as características profundas de que o seu folclore é insígnia. Os mesmos temas todavia, trata-os a alma açoriana com ritmos e formas melódicas diversas do serrano do continente.
Na nossa cantiga há sempre amargura e tristeza, amargura que lhe vem da saudade atávica, tristeza que lhe vem do mar das mil cores.

O mar das ilhas envolve tudo, tudo cerca e tudo possue: almas e corações. É ele que dá ao emigrante dali e aos seus imigrantes também, o sentir dolente, amargo e saudoso que lhe imprime o carácter próprio; esteriotipado até no sotaque de largos traços melódicos que confunde os sábios da fonologia. O ilhéu fala cantando, porque foi no mar que os seua sentidos estéticos, a vista e o ouvido, se desenvolveram, se educaram e se formara. É de frente ao mar que o ilhéu, rezando, proclama a grandeza infinita do Criador, e chorando, canta, resignado, a saudade dos filhos que partem para longe, às vezes para sempre:

Não planteis a saudade
Que a saudade é má flor.
Que uma viva saudade
Me matou o meu amor

Quanta filosofia indescortinada, nesta velha quadra anónima!

Mas nos cantares açorianos também há alegria, muita alegria, por vezes. E há expressões delicadas, módulos que, naquela gente chã, foram imprimindo os velhos fidalgos, donatários, senhores de antanho, morgados de fino tracto que ainda hoje se distinguem por sua nobreza de maneiras, seus modos firmes, graciosamente altivos e inspiradores de veneração e respeito.

A viola de arame é o instrumento açoriano, essencialmente popular. É o mesmo instrumento que os franceses chamam guitarra, com a mesma forma de 8, e mesma afinação, etc. A diferença que existe entre um e outro está apenas na corda que não é de tripa, na viola açoriana, mas metálica. Porém esta distinção é profunda para a vida do nosso folclore, porque permite à imaginação criadora do virtuoso compôr as mais belas e ricas variações que pode imaginar-se, sem sair do tipo temático que a graça do povo encontrou anònimamente.

Há, neste género, verdadeiros artistas.

A guitarra portugueza, periforme, não se popularisou nas ilhas, nem a forma do fado que ela ampara. Muito menos se podia adaptar ao nosso cancioneiro, nem sequer infiltrar-se no folclore regional; porque as nossas melodias, em grande parte inspiradas no modo menor, por vezes até no doristi da herança greco-cristã, estão ipso factu, incompatibilisadas com o inimigo da sua expansão magnífica. O acordeão, embora hoje enriquecido de melhores recursos é, na sua origem, na fase em que o legitimaram os senhores padeiros, essencialmente diatónico, encueirado no sol e dos acordes de tónica dominante.

É por esta razão que este diabo de instrumento, onde entrou, matou tudo.

O açoriano cantando as suas melodias sob a tutela generosa da viola, que sempre adoptou, resistiu a todos os ataques do tedesco. E assim é que hoje, como há um século, dois séculos, três séculos, modula as mesmas canções coreadas que nosso avós cantaram e os seus netos hão-de certamente respeitar e amar. Para o ilhéu nada há que musicalmente valha a sua charamba, o seu pésinho, a tirana, a saudade, a fofa, a chama-rita, a sapateia.

E quando, um dia, se faça o centão de todas as nossas belezas folclorísticas, ver-se-há quanto tudo isto vale.


Lisboa 4-7-32


Tomás Borba"

segunda-feira, 6 de julho de 2009

PRÉMIO LEMNISCATA

Só por amizade de alguém detentor de uma imensurável generozidade se explica a atribuição de uma distinção a este modesto espaço da blogosfera. Mesmo tratando-se do "Prémio Lemniscata". No entanto aceito-o com o mesmo orgulho de quem acaba de receber um "Óscar".

Assim, para cumprimento das obrigações que a aceitação do galardão exige:

1 - afixo o respectivo "selo";

2 - atribuo, por merecimento, esta distinção aos seguintes blogues:
Conversando...
COISAS DO ARCO-DA-VELHA
MODULAR VIDEO
TRADICIONALIS
BAÚ DO CANTIGUEIRO

3 - e respondo à questão: Homo sapiens (prefiro homem sábio) é um título criado pela presunção humana colocando-se acima de todas as criaturas e de todas as sabedorias.

terça-feira, 30 de junho de 2009

JULHO E SEUS SANTOS ADVOGADOS

De uma lista coligida por Thomás Pires e publicada noVol. IV da Revista Lusitana:

Dia 5 - O Bemaventurado Miguel dos Santos - advogado contra os cancros e tumores.

22 - S. Platão - advogado e libertadoe dos captivos.

23 - S. Apollinario - advogado contra as quebraduras;
S. Libório - advogado contra a dor da pedra.

25 - S. Christovão - advogado contra o fastio;
S. Tiago - advogado contra os perigos da guerra.

28 - S. Anna - advogada contra a esterilidade dos casados.

29 - S. Martha - advogada contra a lagarta e pulgão das vinhas.

31 - S. Ignácio de Loyola - advogado contra os partos perigosos.

.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

OS TERÇOS


Nestas semanas que antecedem os “Bodos” temos andado por aí a “cantar o terço” ao Divino Espírito Santo. Esquecida durante muito tempo, esta tradição foi reavivada e reintroduzida no cerimonial das Festas ao Divino, aqui na ilha Terceira, pelo Grupo de Baile da Canção Regional Terceirense.
Esta tradição, a que já nos referimos em outro texto publicado a 11de Março de 2008, terá como provável responsável da sua introdução nos Açores o Padre António Vieira.
“Cantar o terço”não é uma tradição exclusiva dos Açores e, muito menos, da devoção ao “Divino”.
Na “Memória Histórica da Villa de Barcelos”, de Domingos José Pereira, Viana 1867, p.36, lê-se:
“Antigamente, e ainda há trinta anos, os vizinhos da Porta-Nova, e principalmente os mercadores por ali estabelecidos, todas as noites cantavam devotamente o terço, em culto público àquela imagem de Nossa Senhora da Abadia”.
Leite de Vasconcelos, nas suas inúmeras viagens pelo país, ouviu em Mondim, na Beira Alta, “cantar o terço” e dele faz a seguinte descrição:
“Para cantarem o terço, formam-se de noite, em certos sítios centrais, vários magotes de mulheres, nos quais às vezes também entram homens; um magote canta em coro o Padre-Nosso até ao meio, e o outro magote canta em resposta o resto; depois fazem o mesmo para a Ave-Maria: e assim se tem o terço inteiro. Isto dura toda a Quaresma”.
O “terço”, qualquer que seja a circunstância em que é rezado ou cantado, é um conjunto de cinco “mistérios” sendo que cada um consta de um “Padre-Nosso” e dez “Ave- Marias”. A forma de o cantar varia consoante a localidade, a motivação e a Ilha.
Seria um trabalho interessante proceder-se à recolha de todas as variantes conhecidas.
.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

CONSELHOS E CONCELHOS

Na edição de 1917 do “Almanaque dos Açores”, li o seguinte artigo com o título “Um Punhado de Conselhos” cujo objectivo era não só o de contribuir para uma vida mais saudável dos leitores mas também o de lhes moldar o carácter aproximando-os da perfeição:

“1º - Arranjar uma ocupação regular em coisas úteis.
2º - Não viver na ociosidade, nem levar o trabalho ou prazer até à fadiga.
3º - Evitar os desgostos fugindo das aventuras arriscadas.
4º - Quando, apesar de tudo, os desgostos vierem, nunca se deixe abater pela adversidade: mas lutar sempre contra ela encarando a situação pelo melhor lado. Não há desgraça que não tenha algum lado bom.
5º - Comer, moderadamente, coisas simples e fugir dos petiscos e dos cozinheiros bons.
6º - Deitar cedo e levantar cedo.
7º - Lavar todos os dias o corpo em água fria para melhor se habituar a resistir aos resfriamentos súbitos da atmosfera.
8º - Viver num ar puro, ventilando a habitação e o quarto de dormir.
9º - Apanhar um pouco de sol todos os dias, quando houver bom tempo.”

E concluía o artigo:

“Tudo isto se resume ainda em alimentar, exercitar e defender o corpo no limite das suas forças.
Quem seguir à risca estes preceitos não pode ser mau.
Para criar boas pessoas (bons cidadãos, bons chefes de família, bons filhos e bons cristãos), preparemos bons higienistas práticos.”

Então lembrei-me do meu amigo Chico Chora.

Chico Chora, para quem não o conheceu, era um discípulo fanático de Baco: todos os dias lhe prestava homenagem até à exaustão. O dia para este meu amigo começava ao balcão do primeiro café a abrir as portas todas as manhãs em Angra: o “Aliança”. Certo dia muito cedo, ainda o sol não nascera, estava o Chico, como de costume, já com a folha de serviço adiantada. Com os óculos em equilíbrio na ponta do nariz e entre cada “golo” o Chico ia respondendo, de forma automática e com um som imperceptível, aos cumprimentos matinais dos habituais clientes.
- Oh Chico! A estas horas e já estás dessa forma! – Disse um a dar uma de moralista.
Com um gesto suave e meigo o Chico levou novamente o copo à boca e, parecendo dar-lhe um beijo, voltou a desce-lo até ao balcão. Com o indicador tentou recolocar os óculos no sítio. Deu meia volta e encarou de frente o “provocador”.
- Quem és tu para me vires dar conselhos? - disse o Chico com voz alta, pausada e pastosa.
Um silêncio inesperado invadiu o barulhento café.
Tomou folgo e, quando todos julgavam que a conversa ficava por ali, levantou novamente a voz e concluiu:
- Mas…se me quiseres dar algum concelho dá-me o de Santa Cruz da Graciosa porque é o que tem melhor vinho!

E lá voltou, com o seu ar bonacheirão, ao cerimonial interrompido enquanto uma estridente gargalhada perturbava o silêncio matinal da Praça Velha.

Até sempre, Chico!
.

domingo, 3 de maio de 2009

DIA INTERNACIONAL DO SOL


A moda d' O Sol (ou "Lundum") é uma das mais belas do rico cancioneiro popular da Ilha Terceira.
Com ela, através das suas quadras, associamo-nos ao Programa das Nações Unidas para o Ambiente, que hoje comemora o "Dia do Sol".




O sol apareceu brilhando
Par fazer inveja à lua
Mas ao brilho dos teus olhos
A vitória foi só tua

O sol perguntou à lua
Se o queria namorar
Por não saber que o meu bem
Mais que ninguém sabe amar

Numa versão imortalizada pelo José da Lata mas também cantada por Adriano Correia de Oliveira e Zeca Afonso.

O sol "preguntou " à lua
Quando havia amanhecer
À vista dos olhos teus
Que vem o sol cá fazer?

.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

OBAMA NA TERCEIRA


O presidente dos Estados Unidos Barack Obama escolheu os Açores, e em particular a ilha Terceira, para comemorar o 1º de Maio. Fez-se acompanhar do seu inseparável Bo, o cão de água português inquilino da Casa Branca.

Perante a tranquilidade que encontrou nas ilhas o presidente dispensou todos os seus seguranças que aproveitaram para descansar à sombra de uma árvore (ao fundo na foto).

A tradição mantem-se na Escola Básica Integrada de Angra do Heroísmo.

.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O INVENTOR DO TEAR


Estando Satanás às voltas em como ocupar o tempo, pôs-se a inventar. Foi engendrando várias peças que, juntas, formaram uma máquina esquisita que baptizou de "tear". Dispôs-se então belzebu a tecer o primeiro pano mas, todas as vezes que tentava passar a “lançadeira” por entre a “urdidura”, a “canela” saltava-lhe fora. Impaciente como é, e perante o insucesso da sua invenção, o mafarrico pô-la de parte e nunca mais pensou nela.
Um dia S. José, que era carpinteiro, foi chamado a uma casa para exercer a sua arte e deparou-se com uma armação estranha, que nunca antes tinha visto. Curioso, perguntou para que servia. Responderam-lhe qual a sua finalidade mas que não era possível executá-la porque…e lá explicaram a deficiência a S. José. Pôs-se então o Patrono dos carpinteiros a cismar. Desmontou todas as peças da “máquina”. Estudou-as uma a uma e, algum tempo depois encontrou a solução para o problema: a “broca” – uma pequena peça que, introduzida nos dois extremos da cavidade da “lançadeira”, impedia e saída da “canela”.
Ofereceu então S. José o tear a Nossa Senhora que, a partir de então, passou a utilizá-lo para tecer todos os panos que haviam de vestir Nosso Senhor.

Assim reza a lenda!
.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

MESTRE SERAFIM


Serafim Tomás do Canto nasceu em Angra do Heroísmo a 12 de Março de 1844.
Mestre Serafim, como era conhecido, foi aquilo a que podemos chamar um "homem bom". Senhor de uma inteligência acima da média viveu sempre à margem dos cânones sociais vigentes e do “politicamente correcto”. Este facto não o impedia de ser merecedor do respeito, admiração e da atenção de todos.
Mestre Serafim, artista multifacetado, autodidacta, destacou-se principalmente como construtor e animador de fantoches e como “músico-afinador” e construtor de instrumentos musicais.

Como “bonecreiro” ficaram famosos três conjuntos que provocavam o delírio das assistências, maioritariamente constituídas por crianças: o presépio, a praça de touros e o circo.
Para além das inevitáveis figuras, o presépio era constituído por diversos “quadros” que, por si só, eram uma atracção: “os dançarinos” representando oito pares que, ao som das “modas” de então, executavam um movimento circular, marcando o compasso com os pés; o “grupo dos três cegos” dois executando viola e o terceiro guitarra; a “procissão do triunfo”, onde não faltavam as imagens da praxe com o Anjo do Triunfo à frente, o padre e as restantes personagens; “o homem dos sete instrumentos” que tocava “bandurra”, gaita de boca, caixa de rufos, bombo, pratos e guizos, tudo accionado de forma habilidosa para produzir som em simultâneo. Todo este conjunto era accionado por uma manivela que, ligada às figuras por complicadas engrenagens, lhes conferia os movimentos pretendidos.
A “praça de touros” era um espectáculo de fantoches sempre muito aplaudido. Aqui não faltava nada: um cavaleiro, três toureiros, um forcado toiros e o público, e eram representadas todas as sortes, todas elas coroadas com fortes e entusiásticos aplausos.
Por essa altura havia passado em Angra, com muito sucesso, a Companhia de Cavalinhos Nava, uma companhia de circo. Logo Mestre Serafim, elegendo aqueles artistas que mais agrados haviam deixado, tratou de lhes fazer cópia e montou, ele próprio, o seu circo, onde não faltavam números de acrobatas, trapezistas, equilibristas e os inevitáveis palhaços.

Mestre Serafim será para sempre lembrado como um genial construtor de instrumentos. Os de cordas eram verdadeiras obras-primas: a divisão da escala era feita com mestria inultrapassável proporcionando um afino impecável; as madeiras e as colas, aliadas, porventura, a segredos intransmissíveis, proporcionavam às caixas de ressonância excelentes resultados acústicos. Construía também, com bom desempenho, realejos de manivela e afinava qualquer instrumento musical com a perícia própria dos mais entendidos.

Viveu Mestre Serafim com o seu inseparável companheiro – um velho realejo – distribuindo alegria a troco de sorrisos.

Até que a morte os separou a 26 de Janeiro de 1925.
.

terça-feira, 14 de abril de 2009

OUTRA VEZ LACERDA

Em 1899, na cidade de Paris, foi criada a Associação Internacional de Folcloristas. A novel associação tinha como principal objectivo a “recolha da música popular de todos os países civilizados”. Foi seu fundador e principal entusiasta, nem mais nem menos, o açoriano jorgense Francisco Lacerda.


Francisco Inácio da Silveira de Sousa Pereira Forjaz de Lacerda nasceu na Ilha de São Jorge, Açores, 1869 e faleceu em Lisboa a 18 de Julho de 1934). Frequentou o Liceu de Angra do Heroísmo e o do Porto tendo acabado por se fixar em Lisboa onde se matriculou no Conservatório Nacional. Em 1895 parte para Paris como bolseiro do Estado. Passa pelo Conservatório, trabalha com Pessard (harmonia), Bourgault-Ducoudray (história da música), Liber (contraponto) e Widor (contraponto e orgão). Em 1897 dá-se o importante ingresso na Schola Cantorum, o que significa o prosseguimento dos estudos de composição com Vincent d'Indy, e de orgão com Guilmant. Descobrindo no discípulo excepcionais qualidades de maestro, Vincent d'Indy escolhe-o para seu substituto na classe de orquestra.
Depois de uma estada nos Açores, onde faz as primeiras recolhas folclóricas, Francisco de Lacerda volta para a capital francesa, em 1900. Membro do júri da Exposição Universal, colabora com Ressano Garcia, comissário régio, e António Arroio, delegado do Ministério do Fomento, na organização da representação portuguesa. Em 1904 foi nomeado Director dos Concertos do Casino de La Baule. Em 1905 funda a Associação dos Concertos históricos de Nantes, que dirige até 1908. Em 1912-1913 dirige os Grandes Concertos Clássicos de Marselha, cargo que torna a exercer de 1925 a1928. O período de1913 a 1921 é passado principalmente nos Açores onde continua os seus estudos de folclore e se dedica à composição. Em 1921 fixa-se em Lisboa, onde funda a Filarmonia de Lisboa com a qual realiza concertos memoráveis no Teatro de São Carlos e também no Teatro de São João no Porto. No entanto o clima político da época não é propício e a breve trecho é sustida a acção da Filarmonia, mesmo contra o protesto de personalidades como: António Sérgio, António Arroio, Raul Brandão, Raul Proença, Columbano, Oliveira Ramos, Lopes Vieira, Malheiro Dias, Aquilino Ribeiro, Eugénio de Castro, Reinaldo dos Antos, Pulido Valente e Trindade Coelho, que subscrevem o manifesto, de solidariedade para com o músico, intitulado “Um Crime”. Desgostoso Lacerda parte para França tendo aí continuado a sua actividade de regente em Paris, Nantes, Toulouse, Angers e, sobretudo, Marselha. Em 1928, doente, abandona Marselha e regressa a Lisboa. Prossegue o seu trabalho de folclorista e de investigador da música popular portuguesa. O legado de Francisco Lacerda inclui os quadros sinfónicos “Almourol” e “Álcacer”, música de cena para “A Intrusa”, de Maeterlink, música de bailados, peças para órgão, piano, guitarra, prelúdios para trio e quarteto de cordas, além de uma série de “ Trovas” para voz e piano, entre outras.

terça-feira, 7 de abril de 2009

REQUIEM POR UMA TORRE OU O ILHÉU, AS MOSCAS E O HOMEM DAS PENEIRAS

A casa do meu avô, virada a oeste, tinha uma vista privilegiada para o “ilhéu grande” a que outros chamam “das cabras”. Era para lá que meu avô dirigia o olhar quando, logo aos primeiros alvores da manhã, dava inicio à sua rotina diária invariavelmente preenchida com actividade agrícola. Desse olhar dependia a organização dos afazeres: se as “grotas” do ilhéu “luzissem” era previsível que, mais hora menos hora, chovesse. Esta previsão podia ser corroborada pela minha avó que, já de véspera, havia notado que as moscas andavam “pegajosas” ou que o lume não queria pegar.
Não vou garantir, porque não me lembro, se estas previsões eram mesmo infalíveis. Agora o que posso afiançar é que se a tudo isto se juntasse o pregão “meeerca as peneeeiras” aí já não restavam dúvidas: era chuva de os cães beberem em pé.
Nunca cheguei a saber que pacto é que o “homem das peneiras” tinha com S. Pedro. Como também não sei se só funcionava quando vinha da Agualva ao Porto Judeu vender aquilo que ele próprio fabricava.
O “homem das peneiras” morreu, julgo eu, sem deixar quem o substituísse neste serviço de utilidade pública, as moscas foram dizimadas pelo DDT dos americanos e o petróleo, primeiro, depois o gás, vieram apagar as últimas brasas do fogão da minha avó. Só resta o “ilhéu” como memória desta sabedoria que a ciência não consegue explicar.
Até ao dia em que alguém o mande derrubar.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O ABALO


Desta feita foi em Abril. No primeiro dia, passavam 5 minutos das 6. Um forte safanão fez-me saltar da cama com a sensação de ter levado um valente choque eléctrico. Ainda pensei ser uma peta. Mas não. Era mesmo um abalo de terra, daqueles que nos fazem sismar.
Impotente perante as forças da natureza e, tal como me tinham ensinado, pus as mãos, fechei os olhos e recitei em voz baixa:

Oh! São Francisco de Borja
Pelo vosso condão
Peça a Jesus
Que não trema o chão.
O chão não trema
Nem há-de tremer
A Virgem Maria
Nos há-de valer.
Oh! Virgem tão boa
Oh! Virgem tão bela
Livrai-nos do fogo
E dos abalos da terra.

E fiquei à espera das réplicas.
Nem uma!


.

sábado, 4 de abril de 2009

A TEIA E A ARANHA


Quando S. José, Nossa Senhora e o Menino Jesus fugiam para o Egipto, e na eminência da sua captura pelos soldados de Herodes, encontraram refúgio numa gruta. Uma aranha teceu uma teia na entrada, dissimulando-a, impedindo assim que os perseguidores cumprissem as ordens do tirano. Nossa Senhora abençoou então a aranha e a sua teia.
A partir de então:
Matar ou desmanchar uma teia de aranha pode trazer azar para quem o faz.
Uma teia de aranha é sinal de felicidade e de fortuna. É também uma excelente armadilha para exterminar moscas, mosquitos e outros insectos nocivos.
A teia de aranha também tem efeitos curativos e anti-hemorrágicos. Por exemplo: posta sobre a ferida de uma “topada” faz estancar o sangue e acelera a cicatrização.

Depois veio a ASAE e mandou matar todas as aranhas.

Agora percebo porque não consigo acertar no euro milhões; a felicidade anda pelas ruas da amargura; a fortuna foi engolida pela crise e o número de insectos aumentou exponencialmente. Quanto à topada, resta-nos o consolo de que, não havendo teias de aranha, podemos sempre optar por ir engrossar as filas de espera de qualquer serviço de urgência hospitalar.




O "AGREIRO"


Pode acontecer a qualquer um: entrar um “agreiro” num olho.

Para uns é incómodo e prejudica a visão. Para outros até serve de desculpa para não verem aquilo que é evidente.

Para ambos, aqui vai a receita: pega-se na pálpebra como quem belisca e, puxando e relaxando alternada e levemente ao ritmo silábico, diz-se: passa, passa cavaleiro lá para as bandas do outeiro, vai dizer a Nossa Senhora, que te tire este “agreiro”.
Remédio santo.
.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

SEMPRE LEAL


No 1º dia de Abril de 1643, por alvará régio de D. João IV, foi concedido à cidade de Angra do Heroísmo o título de Sempre Leal.