quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

JANEIRO E SEUS SANTOS PROTECTORES

De uma lista coligida por A. Thomás Pires e publicada em 1898 no Vol. IV da Revista Lusitana, eis alguns Santos que o povo tinha como protectores.
Felizes eram pois os desse tempo em que ainda haviam Santos dispostos a lhes valer...

Dia 1 – Santo Alfredo- advogado contra a cólica e contra a dor de pedra;
3 – Santa Genoveva – advogada contra a lepra;
6 – Reis Santos Gaspar, Belchior e Balthasar – advogados contra os acidentes epilépticos e contra os perigos dos caminhos;
7 – S. Tillon – advogado contra as febres;
10 – S. Gonçalo de Amarante – advogado contra as dores das pernas; casamenteiro das velhas e patrono dos tocadores;
15 - S. Amaro – advogado contra os achaques de pernas e braços;
17 – S. Antão – advogado contra a erysipela, e patrono dos almocreves, atafoneiros e cordoeiros;
18 – S. Margarida de Hungria – advogada contra os males da garganta;
20 – S. Sebastião – advogado contra a peste, fome e guerra, e patrono dos marceneiros;
22 – S. Vicente – advogado contra as bexigas, e padroeiro de Lisboa e do Algarve;
S. Anastácio – advogado contra as doenças de qualquer género;
23 – S. Raymundo de Peñfort – advogado contra as febres.

Um Bom Ano.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS

Anda por aí um velho de barbas brancas a querer tirar o lugar ao Menino Jesus. A mim ele não engana! Quem é que vai acreditar que um velho daqueles, ainda por cima com uma enorme barriga, possa entrar pelas chaminés para deixar os presentes nos sapatinhos. É mentira! Eu cá por mim continuo a acreditar é no Menino Jesus. E não me tenho safado nada mal. Há já uns sessenta anos que nos conhecemos e durante todo este tempo Ele nunca se esqueceu de me visitar.

Foi a Ele que eu fiz o meu pedido:" Ó meu Menino Jesus traz-me este ano muita paz, amor e saúde para todas as pessoas do mundo. Também te peço que comeces pelos pobres, pelos doentes, pelas vítimas da guerra, pelos meninos que não teem família, pelos desprotegidos, pelos sem abrigo, por todos aqueles que sofrem e, se por qualquer motivo não conseguires chegar à minha casa, não Te preocupes: eu tenho recebido de Ti muito mais do que mereço".

De tudo o que tenho recebido estão em lugar de destaque todos os meus amigos. É para eles que envio os meus votos de Boas Festas no espírito do autêntico Natal do Menino Jesus.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

VERSOS DE BOAS FESTAS - 7

BOAS FESTAS
Dos empregados de uma sapataria que, em vez de pedirem, organizaram uma rifa cuja receita reverte para a consoada.

Bilhete de uma dessas rifas:

Nº…… Preço $25 centavos

Sorteio de um elegante par de sapatos
de verniz para senhora

Esta vai por vós, senhores
Boas-Festas vimos dar,
Para a noite de Natal
Alguma coisa arranjar

Os rapazes da Sapataria da Moda

Fonte: Rev. Lusitana

VERSOS DE BOAS FESTAS - 6

BOAS FESTAS
De uma casa comercial (que “saúda a todos” – sem pedir a consoada, é claro)


SAUDAÇÃO

A Casa dos Gonçalves deseja
Aos Ex.mos Fregueses seus
Boas-Festas e que o ano lhes seja
Portador das venturas dos céus

Cá na terra só uma tereis:
-Comprar muito por pouco dinheiro,
E em novecentos e dezasseis
Só o Gonçalves será barateiro

Saud’á todos com preito egual,
Nas venturas d’um ridente provir;
De norte a sul de Portugal
Que os meus votos se façam sentir.

E do passado sentido me ufano
Saúdo a todos no primeiro do ano.

Cabanas, 1-1-1916 Casa dos Gonçalves


Fonte: Rev. Lusitana

VERSOS DE BOAS FESTAS - 5

BOAS FESTAS
De um carteiro que logrou quem lhe fizesse poesia mais complicada:


Não há verbo mais perfeito
Mais fácil de conjugar
Entre os verbos portugueses
Que o lindo verbo dar

Tem três letras, meu senhor,
A primeira diz que “dê”,
Com a segunda quem lê
Diz que “dá” seja o que for.
O “erre” não tem valor
Mas aqui não é defeito,
Até dá um certo jeito
Para entalar a vogal;
Hão-de convir, afinal,
“Não há verbo mais perfeito”

Eu bem sei que receber,
Apesar do comprimento,
Se conjuga num momento
Com muitíssimo prazer.
E se não vamos a ver:
Conjuguem dar os fregueses,
Quatro, cinco, vinte vezes,
Que eu conjugo o mais comprido
Porque ao outro está unido
Entre os verbos portugueses

Dá-se ao pé na contradança,
Dá-se de olho às raparigas,
Ao demónio dão-se figas,
A quem ama dá-se esp’rança.
Dá-se papinha à criança,
Dá-se a consoada ao carteiro,
Dá-se ao fole na falta de ar,
Dão-se agora as boas-festas,
Eis o verbo em coisas destas
Mais fácil de conjugar.

O carteiro Malheiro


Fonte: Rev. Lusitana

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

VERSOS DE BOAS FESTAS - 4

BOAS FESTAS
De um recoveiro (a quem roubaram uma capa por ocasião das festas a Sacadura Cabral e Gago Coutinho, após a travessia aérea do Atlântico)

Meus Senhores, o Freitas,
O emissário incansável,
Vem contar-vos (sorte dura!)
Que lhe roubaram a sua capa
Nos festejos do Sacadura

E para comemorar essa data,
Que para ele foi fatal,
Vem pedir que o ajudem
A comprar outra capa
Agora para o Natal.
Fonte: Rev. Lusitana

VERSOS DE BOAS FESTAS - 3

BOAS FESTAS
De um carteiro

É esta árdua missão
De Vos levar Boas notícias,
Por essas ruas além,
Levando cartas, jornais
E encomendas postais,
Sem se queixar de ninguém.

Quantas vezes no inverno
Por desgraça, ó Deus eterno!
Tremendo, todo molhado,
Volta a casa quase morto
Sem ter um golo de Porto
Para ficar mais animado

E depois ao outro dia,
Vai seguindo a romaria,
Para não faltar ao dever;
É por isso que o Araújo
Há muito quem tenha inveja
De tão bons amigos ter.

O carteiro Araújo


Fonte: Rev. Lusitana

VERSOS DE BOAS FESTAS - 2

BOAS FESTAS
De um funileiro

Cá está ele, o funileiro
Que todo o ano deita pingos,
Mas, segundo a nova lei
Nem mais um aos domingos.

É sempre de costume
Vir a criada apressada:
Deita-me aqui um pingo
Nesta panela furada

Sim, senhora, e porque não?
Estou pronto a satisfazer
Porque espero para o Natal
A consoada receber.


Fonte: Rev. Lusitana

sábado, 6 de dezembro de 2008

VERSOS DE BOAS FESTAS - 1

Era um costume antigo, nesta época do ano, os “carteiros, boletineiros, vendedores ou distribuidores de jornais, engraxadores, funileiros, os operários ou empregados das oficinas (de que se é freguês) etc.”, darem as “boas festas” e pedirem a consoada através de versos impressos. Os versos ou eram feitos pelo próprio interessado ou por pessoa entendida a quem ele recorresse.
De uma colecção destes versos, recolhidos e publicados por Cláudio Basto, vou transcrever alguns a partir de hoje:

BOAS FESTAS
(De um engraxador)

Neste viver desgraçado
Em que a vida é cruel
Vem um pobre escorraçado
Mendigar para o farnel

Limpo botas e sapatos
É a minha profissão;
Tapo todos os buracos
Fica tudo na perfeição

Não pode levar a mal
Com a minha exigência,
De na festa do Natal
Cumprimentar Vª. Exª.

Raimundo engraxador

Fonte: Rev. Lusitana

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

COMPARAÇÕES POPULARES

A comparação é uma forma popular utilizada, geralmente, para clarificar uma adjectivação tornando-a objectiva através da escolha do termo comparado. Pode também ser utilizada para enfatizar uma afirmação.
A maior parte das comparações da lista que se segue são comuns ao todo nacional sendo que, de muitas delas, se encontram exemplos similares em outros países.

Amarelo como cera
Amargo como fel
Azedo como vinagre
Bêbado como um cacho
Beber como uma esponja
Bom como melão
Bom como o milho
Branco como a cal
Branco como a neve
Bravo como um touro
Burro como uma porta
Cair com um anjinho
Cair como um pato
Cantar como um rouxinol
Caro como fogo
Chato como um prato
Chato como um prego
Claro como água
Comer como uma frieira
Comer como um padre
Comer como um pinto
Correr como uma zabaninha
Doce como mel
Dormir como um justo
Dormir como um porco
Escuro como breu
Esperto como um alho
Falar como um doutor
Feio como um bode
Feio como um burro
Feio como o pecado
Fino como um rato
Força como um cavalo
Forte como uma torre
Gordo como um batoque
Gordo como um texugo
Leve como uma pena
Lindo como uma estrela
Lindo como uma flor
Lindo como o sol
Magro como um cão
Mau como uma barata
Mau como as cobras
Molhado como um pinto
Nadar como um prego
Negro como um tição
Parir como uma porca
Pernas como um graveto
Preto como uma amora
Seco como a palha
Suar como um cavalo
Tapado como uma parede
Traiçoeiro como o mar
Traiçoeiro como a morte
Triste como a morte
Triste como a noite escura
Velho como os caminhos
Vermelho como um tomate

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

DEZEMBRO E SEUS SANTOS PROTECTORES

Dia 04 – Santa Bárbara – advogado contra trovões e raios e patrona dos artilheiros;
06 – S. Nicolau – advogado das donzellas pobres e desamparadas;
08 - Nossa Senhora da Conceição – Padroeira do Reino e Conquistas, e patrona dos correeiros;
13 – Santa Luzia – advogada contra as doenças de olhos;
23 – S. Sérvulo – advogado contra a paralysia;
27 – S. João, apostolo e evangelista – advogado contra o veneno e patrono dos typographos
31 – S. Silvestre – advogado contra os perigos de caminhos.

Coligido por Thomás Pires - Rev. Lusitana - Vol IV

A FÉ É QUE NOS SALVA


“Uma rapariga que estava muito doente e já desenganada dos médicos, pediu ao noivo, que ia a Jerusalém, que lhe trouxesse da cidade santa um pedaço da madeira da Cruz em que Christo foi pregado, para tomar em vinho, a ver se assim melhorava. O namorado esqueceu-se do pedido da moribunda e, na volta, cortou um bocado de madeira do navio em que vinha, para enganar a rapariga, e como esta se achasse curada completamente, depois de o tomar, dissolvido em vinho, elle então comentava: A fé é que nos salva neja o páo da barca”.

Este conto tradicional, provavelmente incompleto, foi recolhido em S. Miguel, mas acreditamos que era conhecido nas restantes ilhas dos Açores e até mesmo no continente Português.

Outro conto que também justifica o rifão foi registado no Fundão:

“Duma ocasião mandaram um homem à cata dum saibio, pra curér’ mas maleitas. Na caminho perdeu-se e incontrou um rio. Atravessou-o atão n’ma barca, mas ‘squeceu-se de proguntar pelo saibio. Quando voltou, trouxe um bocadinho de pau da barca, mandou fazer um coz’mento, e dixe qu’o saibio é que tinha mandado. E com tam bôa fé o boêram, que figirem nas maleitas. E o homem dezia atão qu’a fé é que nos salva, e noêja o pau da barca”.

.O que ambos os contos têm em comum é o lapso de memória do personagem, sendo este acidente o elemento central que prepara e justifica a conclusão. Se no primeiro conto não encontramos pistas que nos levam a determinar qual a razão para o esquecimento do noivo, já no segundo, recorrendo à sabedoria popular, podemos descobrir a causa próxima que levou o homem a obliterar o motivo da sua missão: atravessar um rio. Com efeito Leite de Vasconcelos registou alguns factos curiosos sobre as crendices populares relacionadas com as águas, como esta: "Quem atravessar um rio deve apanhar um seixinho e metê-lo na boca para se não esquecer do modo de falar da sua terra". Ou esta outra tradição popular antiga em que se acredita que "atravessar um rio faz perder a memória a quem o passa".
Fonte: José Monteiro