Na edição de 1917 do “Almanaque dos Açores”, li o seguinte artigo com o título “Um Punhado de Conselhos” cujo objectivo era não só o de contribuir para uma vida mais saudável dos leitores mas também o de lhes moldar o carácter aproximando-os da perfeição:
“1º - Arranjar uma ocupação regular em coisas úteis.
2º - Não viver na ociosidade, nem levar o trabalho ou prazer até à fadiga.
3º - Evitar os desgostos fugindo das aventuras arriscadas.
4º - Quando, apesar de tudo, os desgostos vierem, nunca se deixe abater pela adversidade: mas lutar sempre contra ela encarando a situação pelo melhor lado. Não há desgraça que não tenha algum lado bom.
5º - Comer, moderadamente, coisas simples e fugir dos petiscos e dos cozinheiros bons.
6º - Deitar cedo e levantar cedo.
7º - Lavar todos os dias o corpo em água fria para melhor se habituar a resistir aos resfriamentos súbitos da atmosfera.
8º - Viver num ar puro, ventilando a habitação e o quarto de dormir.
9º - Apanhar um pouco de sol todos os dias, quando houver bom tempo.”
E concluía o artigo:
“Tudo isto se resume ainda em alimentar, exercitar e defender o corpo no limite das suas forças.
Quem seguir à risca estes preceitos não pode ser mau.
Para criar boas pessoas (bons cidadãos, bons chefes de família, bons filhos e bons cristãos), preparemos bons higienistas práticos.”
Então lembrei-me do meu amigo Chico Chora.
Chico Chora, para quem não o conheceu, era um discípulo fanático de Baco: todos os dias lhe prestava homenagem até à exaustão. O dia para este meu amigo começava ao balcão do primeiro café a abrir as portas todas as manhãs em Angra: o “Aliança”. Certo dia muito cedo, ainda o sol não nascera, estava o Chico, como de costume, já com a folha de serviço adiantada. Com os óculos em equilíbrio na ponta do nariz e entre cada “golo” o Chico ia respondendo, de forma automática e com um som imperceptível, aos cumprimentos matinais dos habituais clientes.
- Oh Chico! A estas horas e já estás dessa forma! – Disse um a dar uma de moralista.
Com um gesto suave e meigo o Chico levou novamente o copo à boca e, parecendo dar-lhe um beijo, voltou a desce-lo até ao balcão. Com o indicador tentou recolocar os óculos no sítio. Deu meia volta e encarou de frente o “provocador”.
- Quem és tu para me vires dar conselhos? - disse o Chico com voz alta, pausada e pastosa.
“1º - Arranjar uma ocupação regular em coisas úteis.
2º - Não viver na ociosidade, nem levar o trabalho ou prazer até à fadiga.
3º - Evitar os desgostos fugindo das aventuras arriscadas.
4º - Quando, apesar de tudo, os desgostos vierem, nunca se deixe abater pela adversidade: mas lutar sempre contra ela encarando a situação pelo melhor lado. Não há desgraça que não tenha algum lado bom.
5º - Comer, moderadamente, coisas simples e fugir dos petiscos e dos cozinheiros bons.
6º - Deitar cedo e levantar cedo.
7º - Lavar todos os dias o corpo em água fria para melhor se habituar a resistir aos resfriamentos súbitos da atmosfera.
8º - Viver num ar puro, ventilando a habitação e o quarto de dormir.
9º - Apanhar um pouco de sol todos os dias, quando houver bom tempo.”
E concluía o artigo:
“Tudo isto se resume ainda em alimentar, exercitar e defender o corpo no limite das suas forças.
Quem seguir à risca estes preceitos não pode ser mau.
Para criar boas pessoas (bons cidadãos, bons chefes de família, bons filhos e bons cristãos), preparemos bons higienistas práticos.”
Então lembrei-me do meu amigo Chico Chora.
Chico Chora, para quem não o conheceu, era um discípulo fanático de Baco: todos os dias lhe prestava homenagem até à exaustão. O dia para este meu amigo começava ao balcão do primeiro café a abrir as portas todas as manhãs em Angra: o “Aliança”. Certo dia muito cedo, ainda o sol não nascera, estava o Chico, como de costume, já com a folha de serviço adiantada. Com os óculos em equilíbrio na ponta do nariz e entre cada “golo” o Chico ia respondendo, de forma automática e com um som imperceptível, aos cumprimentos matinais dos habituais clientes.
- Oh Chico! A estas horas e já estás dessa forma! – Disse um a dar uma de moralista.
Com um gesto suave e meigo o Chico levou novamente o copo à boca e, parecendo dar-lhe um beijo, voltou a desce-lo até ao balcão. Com o indicador tentou recolocar os óculos no sítio. Deu meia volta e encarou de frente o “provocador”.
- Quem és tu para me vires dar conselhos? - disse o Chico com voz alta, pausada e pastosa.
Um silêncio inesperado invadiu o barulhento café.
Tomou folgo e, quando todos julgavam que a conversa ficava por ali, levantou novamente a voz e concluiu:
- Mas…se me quiseres dar algum concelho dá-me o de Santa Cruz da Graciosa porque é o que tem melhor vinho!
E lá voltou, com o seu ar bonacheirão, ao cerimonial interrompido enquanto uma estridente gargalhada perturbava o silêncio matinal da Praça Velha.
Até sempre, Chico!
Tomou folgo e, quando todos julgavam que a conversa ficava por ali, levantou novamente a voz e concluiu:
- Mas…se me quiseres dar algum concelho dá-me o de Santa Cruz da Graciosa porque é o que tem melhor vinho!
E lá voltou, com o seu ar bonacheirão, ao cerimonial interrompido enquanto uma estridente gargalhada perturbava o silêncio matinal da Praça Velha.
Até sempre, Chico!
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1 comentário:
Apesar de tudo, não sabia o Chico o que mais lhe convinha?!...
Viu-se!...
Abraço!
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