sábado, 25 de outubro de 2008

ADEUS CEGO, ADEUS VIOLA...

…diz-se quando algo está irremediavelmente perdido. Não sei precisar se este é um dito local mas bem poderia ter nascido de uma situação caricata protagonizada pelo Francisco Ceguinho, tocador de viola e cantador.
Nos finais do século XIX as festas do Império da Caridade das Figueiras do Paím da Praia da Vitória, que se realizavam, tal como hoje, no último domingo do mês de Setembro, terminavam invariavelmente com uma “toirada” à corda. Em determinado ano entenderam os mordomos substituir esta tradição por uma corrida de praça. Para tal o Largo das Figueiras do Paím foi transformado numa arena delimitada por palanques e camarotes que se encheram com pessoas da Vila e de fora dela.
O Francisco Ceguinho também não quis faltar à festa. Dentro do recinto, antes e no intervalo dos toiros, sempre guiado por um rapaz, parava o Cego em frente dos palanques cantando às pessoas de maior estatuto, começando sempre com a mesma cantiga, mudando apenas o terceiro verso onde cabia o nome do visado:

Fé, esperança e caridade
São três armas da virtude;
Senhor…fulano de tal
Lá vai à vossa saúde.

Entre cada quadra advertia o Cego o seu guia para que este tivesse atenção à saída do toiro.
Em determinada altura sai-se com esta:

Ò rapaz, toma cautela,
Repara bem p’rá gaiola;
Se eles soltam o bicho,
Adeus cego, adeus viola.

Isto dito rebenta um foguete e, no mesmo instante, sai para a arena um valente toiro puro que não vê mais ninguém à sua frente do que o nosso indefeso cantador. Resultado: Cego para um lado, viola para o outro feita em mil pedaços.
Até parece que estava a adivinhar!

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