sexta-feira, 31 de outubro de 2008

UMA COISINHA DE PÃO POR DEUS


Pedir "pão-por-Deus" é talvez a única tradição popular infantil, transversal a várias gerações, que se mantém bem viva entre nós.

Todos os anos, pelo dia de Todos-os-Santos, saem à rua bandos de crianças de todas as condições sociais munidas de "sacas" previamente acauteladas, que vão de porta em porta apelar à dádiva em nome de Deus.
A expectativa de quem pede hoje fica-se por alguma moeda ou guloseima (influência do "halloween"?). Para tal bastará ter uma pequena "saca" onde caberá todo o pecúlio.
Há uns cinquenta anos atrás, principalmente no meio rural, era necessário uma "saca" bem maior. Nela teria de caber: milho em soca ou já debulhado, feijão, batata doce crua ou - que delícia - já assada, alguma castanha, abóbora e tudo o que a economia doméstica pudesse produzir.
Pedir "pão-por-Deus" era, com ainda hoje é, um exercício de partilha. Quem pede fá-lo sem constrangimento; quem dá não não o faz por caridade.
Se por qualquer motivo uma porta não se abrisse ou houvesse uma recusa ao pedido, ontem tal como hoje, a resposta da rapaziada não se fazia esperar: soca vermelha, soca rajada, tranca no cú, a quem não dá nada! E "ala botes, pernas para que vos quero" bater a outra casa e pedir mais "uma coisinha-de-pão-por-Deus".

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