segunda-feira, 20 de julho de 2009

A NOITE EM QUE A LUA PERDEU O ENCANTO

Estava no CISMI em Tavira a cumprir serviço militar, ao tempo, obrigatório. Poucos dias depois de ter terminado a especialidade de “atirador” do curso de “Cabos Milicianos” e, por isso, já autorizado a frequentar a “sala da classe”. Foi nessa sala, em directo, pela televisão, que pude testemunhar, ainda que incrédulo, os primeiros passos do homem na Lua.
O cansaço provocado pelas longas horas de vigília e a quantidade de cerveja ingerida não eram propícios à clarividência exigida a uma testemunha credível. E, reconheço hoje, com irreparável prejuízo para a minha memória que, pese embora os quarenta anos de distância, não consegue filtrar o essencial do acessório de forma a que me traga, com exactidão, a imagem do facto histórico e dos acontecimentos relevantes que o envolveram.
Mas não consigo esquecer que foi nessa noite quente do Julho algarvio que a lua perdeu, para mim, todo o seu encanto. Aquela veste de donzela imaculada que sempre a envolvera rompia-se ali, à vista de toda a gente, sem nenhuma reserva de pudor. A sua virgindade acabava de ser sacrilegamente conspurcada pelo pé de Neil Armstrong.
O meu avô, como era costume, acordou cedo no dia seguinte. Olhou para o crescente da lua e disse para os seus botões: a mim não me enganam! Só vou acreditar que lá chegaram quando encontrarem o tal homem com o molhe de couves às costas.
Desde então nunca mais voltamos a falar sobre a lua.

1 comentário:

momo disse...

sugestão do dia: não racionalizar!
suspiro do dia: sentir apenas!


beijinhos muitos