Com o título “O MEIO ALQUEIRE” o meu amigo e distinto cronista Francisco dos Reis Maduro Dias escreveu a 3 de Setembro de 2000, no seu lugar semanal do Diário Insular "VELA DE ESTAI", um artigo no qual comentava o facto de se ter “construído” bem no meio da praça Velha, sobre a soberba manta de tear terceirense que ali se representa (por sinal da autoria de seu pai Mestre Maduro Dias), um “cerrado” onde decorreu uma “encenação” sobre o “ciclo do milho”.
Lá estavam as paredes de pedra bem tapada a delimitarem o cerrado, a terra, depois uns pés de milho e por fim decorreu a desfolhada.
Mais recentemente, por altura das Sanjoaninas de 2007, uma nova encenação desta feita a que chamaram o “ciclo da vinha”, em que se pretendia reconstituir na rua da Sé toda a faina agrícola que é inerente à cultura da vinha. Para tal apanharam uns pés de vinha e para compor o cenário uns araçaleiros e uns ramos de figueira, colocaram-nos ao longo do percurso e lá foram simulando todos os passos que o homem (ainda) dá desde a plantação da vinha até à colheita da uva.
Em qualquer uma destas reconstituições quem já sabia ficou a saber o mesmo, quem não sabia nada aprendeu. É que estas coisas, para terem o mínimo de credibilidade, e para atingirem os objectivos que se anunciam não podem ser só de faz de contas: faz de contas que estou a lavrar, faz de contas que o milho está a nascer, faz de contas que estou a sachar, faz de contas que aqui tem uvas, faz de contas que estou a vindimar, faz de contas…, faz de contas… .
Vem isto a propósito desta nova tendência que os grupos de folclore têm de recorrer às reconstituições.
Nada me move contra elas, antes pelo contrário, sou um forte defensor desta metodologia, desde que se tenham em linha de conta dois aspectos fundamentais: a "quadra" e o lugar.
Os “antigos” regulavam toda a sua actividade anual pelas “quadras” mais do que por qualquer folhinha do ano ou almanaque. Todas as coisas cabiam certinhas nos seus lugares e no seu tempo, na sua “quadra", numa sucessão harmoniosa de acontecimentos. Nada se repetia no mesmo ano. Por isso tudo era apetecível e aguardado sempre com entusiasmo e elevado grau de ansiedade. E isto tanto era verdade para as actividades de lazer como para as actividades agrícolas; para as épocas de reflexão e recolhimento como para as de exaltação e alegria.
Reconstituir é voltar a constituir, é repor, é voltar a fazer da mesma forma, nos mesmos ambientes, nos mesmos lugares, com o mesmo sentido, na mesma “quadra”, de uma forma coerente. Não faz sentido fazer uma reconstituição de uma vindima se não houver uvas; de uma matança de porco no pico do verão; de uma desfolhada na altura das sementeiras; de uma tosquia na força do Inverno. Matar o porco no Alto das Covas é tão falso como o “cerrado” da Praça Velha ou a vindima em pleno mês de Junho: nada faz sentido. Da mesma maneira que não faz sentido pôr um “maio” à janela no 1º de Abril, dizer petas no 1º de Maio, celebrar o Natal no 1º de Novembro ou pedir “pão-por-Deus a 25 de Dezembro. Se o objectivo é mostrar a quem nos visita estas actividades, e como não se consegue mostrá-las todas de uma só vez, então que se reconstitua cada coisa no seu tempo certo e em sítios adequados para cada situação.
Infelizmente hoje assistimos à generalização desta conduta: o “Entrudo” tanto se antecipa a ele próprio como entra pela Quaresma dentro; o S. João com as suas marchas invade todos os outros padroeiros; o próprio Espírito Santo está tão desorientado que também já perdeu a sua “quadra” e o seu lugar: já O temos visto, por aí, em desfiles e cortejos etnográficos.
Para além da minha preocupação como individuo e como cidadão, acresce a do “folclorista”: é que todas estas tropelias acontecem com a chancela dos Grupos de Folclore. São eles ou é a partir deles que quase todas estas coisas acontecem. Com todo o empenho e a melhor das intenções dos seus elementos, é certo, mas também com muita ignorância e ligeireza dos seus responsáveis.
Os Grupos de Folclore são agentes culturais que têm, entre outras, a função de perpetuar as características que nos identificam e nos diferenciam dos outros: primeiro para que nós não as esqueçamos. Só depois para que os outros as vejam. Mas sempre no mais escrupuloso respeito pela verdade.
Mais recentemente, por altura das Sanjoaninas de 2007, uma nova encenação desta feita a que chamaram o “ciclo da vinha”, em que se pretendia reconstituir na rua da Sé toda a faina agrícola que é inerente à cultura da vinha. Para tal apanharam uns pés de vinha e para compor o cenário uns araçaleiros e uns ramos de figueira, colocaram-nos ao longo do percurso e lá foram simulando todos os passos que o homem (ainda) dá desde a plantação da vinha até à colheita da uva.
Em qualquer uma destas reconstituições quem já sabia ficou a saber o mesmo, quem não sabia nada aprendeu. É que estas coisas, para terem o mínimo de credibilidade, e para atingirem os objectivos que se anunciam não podem ser só de faz de contas: faz de contas que estou a lavrar, faz de contas que o milho está a nascer, faz de contas que estou a sachar, faz de contas que aqui tem uvas, faz de contas que estou a vindimar, faz de contas…, faz de contas… .
Vem isto a propósito desta nova tendência que os grupos de folclore têm de recorrer às reconstituições.
Nada me move contra elas, antes pelo contrário, sou um forte defensor desta metodologia, desde que se tenham em linha de conta dois aspectos fundamentais: a "quadra" e o lugar.
Os “antigos” regulavam toda a sua actividade anual pelas “quadras” mais do que por qualquer folhinha do ano ou almanaque. Todas as coisas cabiam certinhas nos seus lugares e no seu tempo, na sua “quadra", numa sucessão harmoniosa de acontecimentos. Nada se repetia no mesmo ano. Por isso tudo era apetecível e aguardado sempre com entusiasmo e elevado grau de ansiedade. E isto tanto era verdade para as actividades de lazer como para as actividades agrícolas; para as épocas de reflexão e recolhimento como para as de exaltação e alegria.
Reconstituir é voltar a constituir, é repor, é voltar a fazer da mesma forma, nos mesmos ambientes, nos mesmos lugares, com o mesmo sentido, na mesma “quadra”, de uma forma coerente. Não faz sentido fazer uma reconstituição de uma vindima se não houver uvas; de uma matança de porco no pico do verão; de uma desfolhada na altura das sementeiras; de uma tosquia na força do Inverno. Matar o porco no Alto das Covas é tão falso como o “cerrado” da Praça Velha ou a vindima em pleno mês de Junho: nada faz sentido. Da mesma maneira que não faz sentido pôr um “maio” à janela no 1º de Abril, dizer petas no 1º de Maio, celebrar o Natal no 1º de Novembro ou pedir “pão-por-Deus a 25 de Dezembro. Se o objectivo é mostrar a quem nos visita estas actividades, e como não se consegue mostrá-las todas de uma só vez, então que se reconstitua cada coisa no seu tempo certo e em sítios adequados para cada situação.
Infelizmente hoje assistimos à generalização desta conduta: o “Entrudo” tanto se antecipa a ele próprio como entra pela Quaresma dentro; o S. João com as suas marchas invade todos os outros padroeiros; o próprio Espírito Santo está tão desorientado que também já perdeu a sua “quadra” e o seu lugar: já O temos visto, por aí, em desfiles e cortejos etnográficos.
Para além da minha preocupação como individuo e como cidadão, acresce a do “folclorista”: é que todas estas tropelias acontecem com a chancela dos Grupos de Folclore. São eles ou é a partir deles que quase todas estas coisas acontecem. Com todo o empenho e a melhor das intenções dos seus elementos, é certo, mas também com muita ignorância e ligeireza dos seus responsáveis.
Os Grupos de Folclore são agentes culturais que têm, entre outras, a função de perpetuar as características que nos identificam e nos diferenciam dos outros: primeiro para que nós não as esqueçamos. Só depois para que os outros as vejam. Mas sempre no mais escrupuloso respeito pela verdade.
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