BOAS FESTAS
De um carteiro que logrou quem lhe fizesse poesia mais complicada:
Não há verbo mais perfeito
Mais fácil de conjugar
Entre os verbos portugueses
Que o lindo verbo dar
Tem três letras, meu senhor,
A primeira diz que “dê”,
Com a segunda quem lê
Diz que “dá” seja o que for.
O “erre” não tem valor
Mas aqui não é defeito,
Até dá um certo jeito
Para entalar a vogal;
Hão-de convir, afinal,
“Não há verbo mais perfeito”
Eu bem sei que receber,
Apesar do comprimento,
Se conjuga num momento
Com muitíssimo prazer.
E se não vamos a ver:
Conjuguem dar os fregueses,
Quatro, cinco, vinte vezes,
Que eu conjugo o mais comprido
Porque ao outro está unido
Entre os verbos portugueses
Dá-se ao pé na contradança,
Dá-se de olho às raparigas,
Ao demónio dão-se figas,
A quem ama dá-se esp’rança.
Dá-se papinha à criança,
Dá-se a consoada ao carteiro,
Dá-se ao fole na falta de ar,
Dão-se agora as boas-festas,
Eis o verbo em coisas destas
Mais fácil de conjugar.
O carteiro Malheiro
Fonte: Rev. Lusitana
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
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