“Uma rapariga que estava muito doente e já desenganada dos médicos, pediu ao noivo, que ia a Jerusalém, que lhe trouxesse da cidade santa um pedaço da madeira da Cruz em que Christo foi pregado, para tomar em vinho, a ver se assim melhorava. O namorado esqueceu-se do pedido da moribunda e, na volta, cortou um bocado de madeira do navio em que vinha, para enganar a rapariga, e como esta se achasse curada completamente, depois de o tomar, dissolvido em vinho, elle então comentava: A fé é que nos salva neja o páo da barca”.
Este conto tradicional, provavelmente incompleto, foi recolhido em S. Miguel, mas acreditamos que era conhecido nas restantes ilhas dos Açores e até mesmo no continente Português.
Outro conto que também justifica o rifão foi registado no Fundão:
“Duma ocasião mandaram um homem à cata dum saibio, pra curér’ mas maleitas. Na caminho perdeu-se e incontrou um rio. Atravessou-o atão n’ma barca, mas ‘squeceu-se de proguntar pelo saibio. Quando voltou, trouxe um bocadinho de pau da barca, mandou fazer um coz’mento, e dixe qu’o saibio é que tinha mandado. E com tam bôa fé o boêram, que figirem nas maleitas. E o homem dezia atão qu’a fé é que nos salva, e noêja o pau da barca”.
.O que ambos os contos têm em comum é o lapso de memória do personagem, sendo este acidente o elemento central que prepara e justifica a conclusão. Se no primeiro conto não encontramos pistas que nos levam a determinar qual a razão para o esquecimento do noivo, já no segundo, recorrendo à sabedoria popular, podemos descobrir a causa próxima que levou o homem a obliterar o motivo da sua missão: atravessar um rio. Com efeito Leite de Vasconcelos registou alguns factos curiosos sobre as crendices populares relacionadas com as águas, como esta: "Quem atravessar um rio deve apanhar um seixinho e metê-lo na boca para se não esquecer do modo de falar da sua terra". Ou esta outra tradição popular antiga em que se acredita que "atravessar um rio faz perder a memória a quem o passa".
Este conto tradicional, provavelmente incompleto, foi recolhido em S. Miguel, mas acreditamos que era conhecido nas restantes ilhas dos Açores e até mesmo no continente Português.
Outro conto que também justifica o rifão foi registado no Fundão:
“Duma ocasião mandaram um homem à cata dum saibio, pra curér’ mas maleitas. Na caminho perdeu-se e incontrou um rio. Atravessou-o atão n’ma barca, mas ‘squeceu-se de proguntar pelo saibio. Quando voltou, trouxe um bocadinho de pau da barca, mandou fazer um coz’mento, e dixe qu’o saibio é que tinha mandado. E com tam bôa fé o boêram, que figirem nas maleitas. E o homem dezia atão qu’a fé é que nos salva, e noêja o pau da barca”.
.O que ambos os contos têm em comum é o lapso de memória do personagem, sendo este acidente o elemento central que prepara e justifica a conclusão. Se no primeiro conto não encontramos pistas que nos levam a determinar qual a razão para o esquecimento do noivo, já no segundo, recorrendo à sabedoria popular, podemos descobrir a causa próxima que levou o homem a obliterar o motivo da sua missão: atravessar um rio. Com efeito Leite de Vasconcelos registou alguns factos curiosos sobre as crendices populares relacionadas com as águas, como esta: "Quem atravessar um rio deve apanhar um seixinho e metê-lo na boca para se não esquecer do modo de falar da sua terra". Ou esta outra tradição popular antiga em que se acredita que "atravessar um rio faz perder a memória a quem o passa".
Fonte: José Monteiro
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