domingo, 15 de março de 2009

HOJE É O "DIA DE PETER FRANCISCO"


Em 24 de Fevereiro de 1973 o Senado dos Estados Unidos da América aprovou uma resolução declarando o 15 de Março de cada ano como o dia de recordar um dos grandes heróis da Guerra da Independência Norte Americana: Peter Francisco.

Conhecido como o “Gigante da Virgínia”, P.F. teve uma acção muito importante nas grandes e decisivas batalhas da Guerra da Independência, a ponto de ter recebido do próprio General George Washington as seguintes considerações: “Sem ele nós teríamos perdido, certamente, duas batalhas cruciais. Talvez até a guerra e, com ela, a nossa liberdade. Ele era na verdade “um exército dum homem”.”


Na manhã de 23 de Junho de 1765 numa doca de James River em City Point na Virgínia, foi encontrado um rapaz que aparentava ter 5 anos de idade. Falava uma língua desconhecida e, embora sujas e deterioradas, as suas roupas pareciam ser da melhor qualidade, com belas rendas na gola e punhos, sapatos e cinto com fivelas de prata ostentando a sigla PF, o que fazia supor a sua origem de uma família abastada.
Entregue aos cuidados do juiz Anthony Winston de Buckingham County, Virgínia - que o criou e mais tarde o adoptou - rapidamente se fez notar o seu desenvolvimento físico invulgar. Aos 15 anos mediria cerca de 2 metros com o peso de 120 quilos.
Em Dezembro de 1776, já com 16 anos, satisfazendo a sua vontade, Winston deu-lhe permissão para se juntar às milícias que se organizam para lutar contra o exército imperialista britânico. É alistado no 10º Regimento da Virgínia sob o comando do Coronel Hugh Woodson e foi enviado para Middlebrook, NJ, para a sua formação básica. Sob o comando do general George Washington, Francisco recebeu seu baptismo de fogo na batalha de Brandywine na quinta-feira, 11 de Setembro de 1777, onde se distinguiu, tal como em muitas batalhas que se seguiram, pela sua força e coragem.
São muitas as incríveis aventuras protagonizadas por PF. Muitas delas estão narradas numa série de romances sobre este “Hércules da Revolução” e os “Gigantes da Virgínia”, editados a partir de 1800, especialmente para crianças com idade escolar, onde, para além do nosso herói, se recorda também Davy Crockett e Daniel Boone.
Um selo postal recorda uma dessas aventuras: “Em Camden, PF consegue resgatar um canhão com 495 quilos aos britânicos, transportando-o às costas por todo o campo de batalha”.

Em 1783 após a declaração de independência e do fim da revolução, Peter Francisco torna-se um próspero proprietário em Buckingham. Ao mesmo tempo aposta na sua própria formação. Apesar dos negócios, da idade e das feridas da guerra, Francisco concorre a um lugar numa escola privada em John McGraw onde foi aceite. Passados três anos já lia os clássicos e veio a tornar-se um ávido leitor tendo montado a sua própria biblioteca.
Mais tarde, ele e a sua 3ª esposa mudam-se para Richmond. Aí é nomeado “Sargento-em-Armas” da Casa de Delegados do estado de Virgínia, cargo que ocupa nos últimos seis anos de vida. A 18 de Janeiro de 1831 o jornal Richmond Enquirer publica a seguinte notícia: "Faleceu no domingo, nesta cidade, após um prolongado indisposição, Peter Francisco, o Sargento-em-Armas da Assembleia de Delegados e um soldado revolucionário, recordado pela sua intrépida coragem e brilhantes proezas. O Governador do Estado compareceu ao funeral sendo Peter Francisco enterrado com plenas honras militares e maçónicas no Cemitério Shockoe”.

A sua origem:

Depois de aprender algumas palavras em Inglês, Francisco tenta explicar à sua nova família o que ele guardava da sua origem: que se lembrava de que vivia numa grande casa à beira-mar. Vagamente se lembrava do pai, mas era viva a recordação de uma irmã e da sua bela mãe a quem ele muito amava.
Embora nunca tivesse sido capaz de se lembrar do nome de seu país natal, ele retinha algumas memórias do que provavelmente foram os últimos momentos de sua vida em casa: “estava brincando com sua irmã no jardim da casa de seus pais quando dois marinheiros os atraíram ao portão com bolos ou brinquedos. Aberto o portão, os homens pegaram as duas crianças. A garota conseguiu escapar, mas os raptores jogaram um cobertor sobre Francisco e levaram-no para um navio que os esperava.
Para além destas informações pouco precisas a sua origem continuaria envolta em mistério.
Após a sua morte o interesse pela origem de Peter Francisco foi-se esfumando com o tempo para, anos mais tarde, voltar a suscitar o interesse de investigadores e historiadores.
Robert McKee do Tennessee seguiu uma pista que o levava a suspeitar que a origem de F. P. fosse espanhola. Esta tese nunca conseguiu substantivas provas para a tornar minimamente credível.
Mais concludentes foram os resultados dos estudos realizados em 1960 por John E. Manahan da Universidade de Virgínia. Seguindo a opinião unânime dos descendentes de Peter Francisco, embora sem provas que a confirmassem, de que a origem do “gigante” seria portuguesa, Manahan passou sete meses pesquisando nas ilhas da Graciosa, São Jorge e Terceira nos Açores. Seus esforços foram recompensados na ilha Terceira, onde confirmou que, na freguesia costeira do Porto Judeu, havia sido registado um indivíduo do sexo masculino nascido no dia 9 de Julho de 1760 a quem baptizaram com o nome de Pedro Francisco, portanto cinco anos antes do aparecimento em City Point, agora Hopewell, Virgínia, do desconhecido PF. Para além desta, Manahan recolheu ainda informações sobre história familiar e o direito de posse de uma casa Pedro Francisco.

Na freguesia do Porto Judeu, onde passei o melhor da minha infância e juventude, ouvi aos mais velhos contarem esta história, com mais ou menos pormenores e, por isso, sempre identifiquei aquela que teria sido a casa da família de Pedro Francisco. Situada numa zona junto ao mar, conhecida ainda hoje como o Refugo, esta bela casa (já desaparecida) de dois pisos e de linhas sóbrias era murada por altas paredes, sendo a serventia da rua feita por um imponente portão. Quase em frente, um pouco mais abaixo, desembocava o Caminho Velho que ia dar ao porto de mar que deu o nome à freguesia.

Para além do seu nome ter sido dado a uma rua na sua terra natal, Pedro Francisco é hoje um herói desconhecido ou ignorado dos seus compatriotas.

Do outro lado do Atlântico a memória de PF está perpetuada através da celebração de um dia em sua honra, de um Museu com o seu nome e de vários monumentos.
A União Portuguesa Continental (UPC), criou em 1957 uma condecoração de ouro, prata e esmalte com o nome de Peter Francisco. Os candidatos para a prestigiada medalha são pessoas ou organizações que contribuam para a promoção das relações luso-americana e para a preservação do património e da cultura Portuguesa. A medalha é formada por uma cruz semelhante à cruz de Cristo, sobreposta por uma estrela de cinco pontas com o escudo das armas de Portugal, suspensa de duas mãos apertadas, símbolo universal de fraternidade, tendo sobre ela uma voluta contendo a divisa do Infante D. Henrique "Talent de bien faire" e um diploma próprio."
O primeiro agraciado com esta distinção foi, em 1959, o ainda senador John F. Kennedy.

2 comentários:

momo disse...

Peter Francisco pela valentia poderia ser de Porto Judeu...mas os cerca de 2 metros de altura refutam qualquer hipótese... pelo menos do pouco que conheço dos habitantes daquela freguesia.
imagino que esta História, quando contada aos mais pequenos, lhes suscite um orgulho imenso e a ambição de chegar ao tamanho do Herói PF. Uma óptima forma de os levar a comerem vegetais e sopa...
obrigada pelo post
um beijinho

Anónimo disse...

existe no porto judeu um descendente de Pedro Francisco com a mesma estutura de Pedro Francisco